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segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

QUADROS COM HISTÓRIA: “O BEIJO”. KLIMT


Sempre me senti fascinada pela apoteose cromática de “O Beijo”, de Klimt. Por entre o fundo de ouro e a base de flores ergue-se uma forma homogénea, que representa a fusão de dois corpos unidos pelo Amor. 
Tudo se passa como se olhasse o sol diretamente, sem filtros. A sedução, que transpassa para o lado de cá, de quem olha, é quase impositiva. As figuras masculina e feminina não se evidenciam apenas pelos rostos e mãos, mas também, mais simbolicamente, pelos padrões dos tecidos que vestem. Ele, com um manto opulento de formas geométricas, mais viris, e ela com imagens arredondadas e floridas, que simbolizam o feminino.
O homem não mostra o rosto, mergulhado que está no enlace da mulher, ruiva, como eram as mulheres pintadas por Klimt, por influência dos Pré-Rafaelitas. A sua virilidade evidencia-se pelo pescoço e mãos fortes, bem como pelo porte imponente. Ela aparenta uma atitude mais passiva e subjugada. Ambos se deixam envolver naquele momento único que antecede o beijo. É o quase e não o já que lhes importa. Saboreiam antecipadamente o esplendor que irão viver. Ajoelham-se numa atitude plena de submissão perante o amor. As flores e folhas envolvem o cabelo de ambos e colorem o tapete que lhes serve de leito. As plantas douradas que envolvem os pés da mulher, são conhecidas como a erva de Parnaso, um antigo símbolo de fecundidade. O próprio pintor cultivava as plantas e flores, que reproduzia nas suas pinturas. Ali estão eles, apaixonados, completamente alheados do mundo, sob uma chuva de ouro e de sol que é o seu êxtase.

“O Beijo” (1907-1908) tem sido considerado uma pintura intensamente erótica, sendo, certamente, a mais célebre e mais reproduzida de Gustav Klimt, repleta de motivos simbólicos e alegóricos, a que não são alheias as descobertas de Jung e Freud. Na Viena de finais do séc. XIX e início do séc. XX, discutia-se abertamente a sexualidade, e o inconsciente, por inficiativa de Freud, contemporâneo de Klimt.

Gustav Klimt (n. 14-7-1862- m. 6-2-1918) era filho de um ourives, e com o pai aprendeu a utilizar as folhas de ouro nas suas obras. Foi, porém, numa viagem a Itália, que se intensificou o gosto pelo dourado, ao conhecer os mosaicos bizantinos da Igreja de San Vitale. “O Beijo” é precisamente considerado o ponto alto da era dourada do pintor. Muitos especialistas pensam que a mulher representada nesta obra é Emilie Flöge, sua companheira e musa preferida. O que importava ao pintor era, no entanto, pintar a mulher, em geral, sexualmente livre.
Klimt representou bem, ao longo da sua obra, a síntese entre o simbolismo e a Arte Nova.

O Beijo é uma festa, um deslumbre, um hino à sedução amorosa.

Atualmente, a obra, de 180x180 centímetros, pode ser vista na Österreichische Galerie Belvedere, no Palácio com o mesmo nome, em Viena, Áustria.


Maria Teresa Sampaio
Fevereiro de 2015

sábado, 14 de fevereiro de 2015

Ser

É quando a voz se cala
e as palavras  silenciam
que nada apetece
a não ser o murmúrio do vento
nas copas das árvores
ou uma inesperada surpresa de ser


Teresa Sampaio
14-02-2014