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segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Dia Internacional em Memória às Vítimas do Holocausto - uma reflexão.

A ONU assinala hoje o Dia Internacional em Memória às Vítimas do Holocausto.
Dizemos sempre com esperança, que nunca mais se repita, mas, infelizmente, este e outros horrores são cometidos, nos últimos tempos, na Síria, por parte do governo e da oposição.
Infelizmente, também, os israelitas ergueram um muro para os separar dos palestininanos e o conflito parece não ter fim. 

Os judeus foram o povo que mais sofreu, que foi vítima de um genocídio na II Guerra Mundial e de torturas inenarráveis.
Seis milhões morreram só porque eram judeus e não arianos de raça pura.
Mas os judeus não podem continuar a pensar e a dizer que são o povo eleito e, em nome dessa ideia do antigo testamento, julgarem-se também superiores aos palestinianos, não aceitando o direito deles a um estado autónomo.
Desgraçadamente praticam a lei, também do antigo testamento, de "olho por olho, dente por dente" e seguem o seu caminho de vingança estúpida e obscena.
De tempos a tempos, Israel bombardeia a faixa de Gaza, matando civis desarmados, entre os quais muitas crianças, mulheres e idosos. Porquê? Porque em 1947 a ONU decidiu que o povo judeu iria ocupar 57% das terras onde viviam, há centenas de anos os palestinianos e onde tinham também nascido as 12 tribos de Judá, para aí constituirem o Estado de Israel.
Os palestinianos respondem à guerra com guerra, embora em muito menor dimensão.
Um ciclo de terror e mortes continua de ambos os lados, cada um com as suas razões.
De facto, a humanidade não aprendeu nada ao longo de séculos de guerras e tormentos.
Não há povos superiores nem inferiores. Há pessoas com cultura, História e tradições diversas.
mts
A matança dos judeus por militares nazis.
Nazi mata a tiro uma mãe judia com o filho ao collo.
Judeu numerado como se fosse gado, num campo de concentraçãso nazi. 
Um homem sírio chora enquanto carrega o filho nos braços, moto pelo exército sírio, perto do hospital Dar El Shifa, em Aleppo, na Síria.
A face da guerra na Síria
O massacre de Houla ocorreu no meio da guerra civiçl na Síria, em 25 de maio de 2012, em duas aldeia controladas pela oposição, na região de Houla. Foram mortas 108 pessoas.
Êxodo dos palestinos, expulsos à força de suas casas e terras onde viviam há muitas centenas de anos, aquando da criação do Estado de Israel.
 Militar israelita aponta a arma a mulher com duas crianças pela mão
Mortos em Gaza.
Criança palestiniana chora durante um bombardeamento israelita.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

"Fraqueza e pequenez" na Casa Fernando Pessoa

As notícias das irregularidades perpetradas na Casa Fernando Pessoa, prosseguem, agora no Correio da Manhã.
Era bom que a verdade fosse apurada e que os responsáveis fossem exemplarmente punidos, a todos os níveis, incluindo o institucional.
Quem se mancomuna com amigos para os favorecer, e se promover ilegitimamente, à conta do erário público e do nome maior de Fernando Pessoa, quem for cúmplice também, devia, num país justo e não corrupto, demitir-se do seu cargo, ou, se não tiver um pingo de pudor nem a coragem de tomar essa louvável iniciativa, haja alguém, hierarquicamente superior, isento e impoluto, que, imediatamente, exonere do cargo os responsáveis.

Gente de bem agiria com virtude e isenção. Sem mais delongas.
Que a Casa Fernando Pessoa seja bem limpa e varrida de gente espúria!
Aqueles que lá trabalham e que formam uma equipa unida, leal, dedicada e trabalhadora como poucas, não merecem ser dirigidos, nem a nível intermédio nem superior, nem ao mais institucional, por quem traiu Fernando Pessoa e os tem estado a trair há muito tempo. 

Fernando Pessoa, (através de Álvaro de Campos) que esteve sempre à frente do seu tempo e até do atual, disse neste excerto da "Passagem das Horas":

Estatelo-me ao comprido em toda a vida
E urro em mim a minha ferocidade de viver...
Não há gestos de prazer pelo mundo que valham
A alegria estupenda de quem não tem outro modo de a exprimir
Que rolar-se pelo chão entre ervas e malmequeres
E misturar-se com terra até sujar o fato e o cabelo...
Não há versos que possam dar isto...
Arranquem um (...) de erva, trinquem-na e perceber-me-ão,
Perceberão completamente o que eu incompletamente exprimo.
Tenho a fúria de ser raiz
A perseguir-me as sensações por dentro como uma seiva...
Queria ter todos os sentidos, incluindo a inteligência,
A imaginação e a inibição
À flor da pele para me poder rolar pela terra rugosa
Mais de dentro, sentindo mais rugosidade e irregularidades.
Eu só estaria contente se o meu corpo fosse a minha alma...
Assim todos os ventos, todos os sóis, e todas as chuvas
Seriam sentidos por mim do único modo que eu quereria...
Não podendo acontecer-me isto, desespero, raivo,
Tenho vontade de poder arrancar à dentada o meu fato
E depois ter pesadas garras de leão para me despedaçar
Até o sangue correr, correr, correr, correr...
Sofro porque tudo isto é absurdo
Como se me tivesse medo alguém,
Com o meu sentimento agressivo para o destino, para Deus,
Que nasce de encararmos com o Inefável
E medirmos bem, de repente, a nossa fraqueza e pequenez.[...]

O que aconteceu foi que atravessaram várias vezes o Atlântico,  percorreram caminhos lamacentos e estatelaram-se ao comprido na vida, mas faltou-lhes a grandeza do Mestre. 
Não souberam medir  a sua "fraqueza e pequenez."!

mts





quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Irregularidades na Casa Fernando Pessoa (continuação)

Disse, certeiramente, Fernando Pessoa pela pena de Álvaro de Campos


No conflito escuro e besta
Entre a luz e o lojame
Que ao menos luz se derrame
Sobre a verdade, que é esta:

Como é uso dos lojistas
Aumentar aos cem por cento,
Protestam contra um aumento
Que é reles às suas vistas.

E gritam que é enxovalho
Que os grandes, quando ladrões,
Nem guardem as tradições
Dos gatunos de retalho.

Lojistas, que vos ocorra
Roubar duzentos por cento!
E acaba logo o argumento
Entre a Máfia e a Camorra...

s.d.

Álvaro de Campos 

Desenho de João Abel Manta

A lucidez de Fernando Pessoa

(Ainda a propósito das irregularidades que se passam na sua Casa)

"A nossa ruína cultural, a nossa não lusitanidade íntima, esse é o mal que nos mina; todos os outros, por graves que sejam, podem passar, podem ter solução. Mas para aquilo que, continuado, é a morte mesma, não há solução.
Do esforço instintivo da sociedade portuguesa, da operação obscura das leis desconhecidas, pelas quais as sociedades se regem, e que são o comentário frequentemente irónico à vontade inútil dos homens, ao esforço estéril das vontades individuais e conscientes, não podemos esperar nada, embora o possamos esperar. É que não podemos ter confiança no que desconhecemos, nem trabalhar em prol ou contra o que é inevitável e seguro.
Do estado nada podemos esperar também, mas, aqui, por uma outra razão. O estado não é português, o estado não é decente, o estado está, desde 1820, na posse de homens cuja obra é a essência da traição e da falência. Procurar o auxílio do estado é tão absurdo como procurar influenciar os homens que o possuem. Não há neles uma centelha de boa vontade patriótica, nem de lucidez portuguesa. Vivem daquilo, e nem vivem daquilo elegantemente." (...)

Fernando Pessoa in "Sobre Portugal - Introdução ao Problema Nacional."



Caricatura por David Levin 1972

Casa Fernando Pessoa à lupa.

Fernando Pessoa, que passou e ficou "como o universo" e que tinha um gosto especial por paradoxos e charadas, deve estar às voltas, para tentar decifrar o que se passa na sua Casa, quem se aproveitou do seu nome e como se promoveu a si e aos amigos., enquanto sacrificava os funcionários da Casa, dedicados, leais e árduos trabalhadores.
Indevidamente. 
Em Portugal e no Brasil. 
Frequentemente. 
Indecorosamente. 
Sem qualquer pudor nem dignidade.

Tudo se foi passando, envolto em bruma, na esperança de que todos fossem ignorantes, néscios e que nada se percebesse. 

Mas chegou o dia, a Hora!

O nome de Fernando Pessoa engrandece Portugal no mundo, cultural e humanisticamente. Não merece que dele se sirvam para propósitos menos honrosos.


Disse ele no Livro do Desassossego: "Quanto mais medito na capacidade, que temos, de nos enganar mais se me esvai entre os dedos lassos a areia fina das certezas desfeitas." 

Assim é e é triste que assim seja.

mts


A propósito da notícia de hoje no Público.

"Casa Fernando Pessoa adjudica serviços a empresa com escritório na residência da sua directora

Além dos contratos directos, a mesma firma tem recebido encomendas indirectas, através de outras empresas contratadas pela Câmara de Lisboa e pela Egeac.
A Casa Fernando Pessoa adjudicou vários serviços por ajuste directo, desde o final de 2012, a uma pequena empresa que tem escritório em casa da sua directora artística, a escritora Inês Pedrosa.
Além das adjudicações feitas a essa empresa, o seu gerente e proprietário tem beneficiado de contratos indirectos, relativos à Casa Fernando Pessoa (CFP), celebrados pela Egeac, a empresa da Câmara de Lisboa que gere a instituição desde 2012, e pela própria autarquia.
Instalada em Campo de Ourique, num edifício camarário, a CFP funciona desde 1993 como um centro cultural dedicado à obra de Fernando Pessoa. Promove exposições, conferências e outras iniciativas ligadas à poesia em geral e a Pessoa em particular, para lá de publicar a revista Pessoa.
Em 2008, o presidente da câmara, António Costa, decidiu transformar este serviço municipal numa fundação, tal como defendia Inês Pedrosa, mas o projecto foi abandonado meses depois. Nesse período, todavia, o município despendeu mais de 50 mil euros em estudos preparatórios, parte dos quais nunca foram feitos e outra ficou por concluir.
A contratação da empresa Above Bellow, de que é dono e gerente o designer brasileiro Gilson Lopes, foi sempre feita sem consulta a quaisquer outros fornecedores — procedimento que a lei não exige, devido aos reduzidos montantes envolvidos nas adjudicações. Num dos casos, em Dezembro de 2012, a CFP encomendou-lhe cerca de 3 mil euros (mais IVA) em objectos de merchandising, contratando-a depois para fazer algumas fotografias por 520 euros.
Mais recentemente, através de outro contrato, foram-lhe encomendados vários serviços na área de artes gráficas e audiovisual, relativos ao III Congresso Internacional Fernando Pessoa, no valor de 4826 euros.
A particularidade deste última encomenda está no facto de a factura emitida em nome da Egeac, em Outubro do ano passado, indicar como “Escritório e morada postal” um apartamento de Entrecampos onde reside a directora artística da CFP. No mesmo local tem também sede a firma Inês Pedrosa, Unipessoal Ldª, detida exclusivamente por aquela escritora e jornalista.

Gilson Lopes presente em vários trabalhos
Paralelamente ao Congresso Internacional Fernando Pessoa, a CFP e a Egeac produziram a exposição Lisboa em Pessoa, que esteve patente nos dois últimos meses no aeroporto da Portela. A sua concepção e produção foram adjudicadas em Novembro, por ajuste directo e pelo valor de 13.856 euros (mais IVA), à empresa de publicidade WOP, a qual, de acordo com  uma informação oficial da Egeac, “solicitou algumas ilustrações para este trabalho” a Gilson Lopes. O seu nome, todavia, consta da ficha técnica da exposição como responsável pela “direcção de arte e ilustração”.
Também a revista Pessoa, que é editada pela CFP e não se publicava há dois anos, voltou às bancas há dois meses, tendo o seu grafismo sido encomendado pela câmara, através de uma outra empresa, a Gilson Lopes, que figura na ficha técnica como responsável pelo design dessa edição.
Uma das coisas que chama a atenção nestes contratos públicos e foi alvo de várias referências num blogue denominado Corta-fitas é o facto de o empresário ter uma relação de grande proximidade com a directora da CFP. Ao PÚBLICO, sobre esse assunto, Inês Pedrosa respondeu por email nos seguintes termos: “Não estou casada nem em situação configurável como união de facto — e a minha vida privada é, de acordo com a lei, isso mesmo: privada.”
Já Gilson Lopes começou por dizer, ao telefone, que não tinha nada a ver com Inês Pedrosa. Quando lhe foi lembrada a “morada postal” das suas facturas, pediu para lhe serem enviadas perguntas por escrito. Até hoje, passadas duas semanas, nada disse.
Quanto às adjudicações à Above Bellow, Inês Pedrosa comentou que está “contratada pela Egeac para a Casa Fernando Pessoa como prestadora de serviços de direcção artística, sem poderes para adjudicar o que quer que seja”.
As autorizações e propostas de adjudicação são de facto assinadas pela directora-executiva da CFP, Carmo Mota. O PÚBLICO perguntou a esta funcionária da Câmara de Lisboa se a iniciativa de contratar Gilson Lopes era de Inês Pedrosa, mas a mesma respondeu apenas que reencaminhara o pedido de informação para a direcção da Egeac.
Num email enviado esta terça-feira ao PÚBLICO, a Egeac nada diz sobre aquela questão, mas informa que as decisões de adjudicação e contratação “são funções das direcções de equipamento” e que “as direcções artísticas definem as orientações artísticas da instituição, sendo que há uma total e necessária articulação entre direcções”, neste caso da CFP. 
A  Egeac acrescenta que os contratos em causa surgiram “num contexto da evidência de uma necessidade imediata e específica combinada com as referências profissionais da Above Bellow e de Gilson Lopes”, com “a disponibilidade de calendário para aceitação e realização dos projectos” e com o “equilíbrio [das suas propostas] face aos preços de mercado”.
Tanto a Egeac como a vereadora da Cultura da Câmara de Lisboa, Catarina Vaz Pinto, recusaram-se a fazer qualquer comentário sobre as relações entre a directora artística da CFP e Gilson Lopes.
Advogado primo de Inês Pedrosa
A Câmara de Lisboa, através do então director municipal de Cultura, Rui Pereira, contratou no final de 2008 a advogada Maria José Oliveira e Carmo para prestar vários serviços relativos à constituição da Fundação Casa Fernando Pessoa. A jurista trabalhava à época com o advogado Miguel Pedrosa Machado, primo direito de Inês Pedrosa, a qual sugeriu a contratação a Rui Pereira.
O contrato, no valor de 24.996 euros, contemplava a elaboração dos estatutos da fundação, bem como oito trabalhos acessórios. Os arquivos da Direcção Municipal de Cultura, porém, apenas tem registo da entrega dos estatutos, que se traduzem em 19 páginas e 25 artigos — alguns deles iguais aos de minutas disponíveis na internet. O contrato foi assinado por Rui Pereira e por Maria José Oliveira e Carmo a 26 de Novembro de 2008.
A nota de honorários da advogada e o recibo por ela emitido têm data do dia anterior, 25 de Novembro, sendo também desse dia o visto de Rui Pereira por baixo de um carimbo com a seguinte inscrição: “O trabalho foi executado nas devidas condições.” Nos termos do contrato, o mesmo só terminará quando a advogada apresentar à câmara “o requerimento a solicitar a declaração de utilidade pública” da fundação, coisa que nunca aconteceu, até porque António Costa desistiu do projecto.
O clausulado refere também que o pagamento será feito de uma só vez, até 60 dias após a data do recibo. Oito dias depois da sua emissão, a 2 de Dezembro, Rui Pereira autorizou o pagamento, o qual foi efectivado no final desse mês. Maria José Oliveira e Carmo disse ao PÚBLICO que fez tudo aquilo a que se vinculou e que lhe foi possível fazer. “Se não se avançou com nada não foi por inércia minha, mas porque a câmara travou o processo. Em todo o caso estou pronta a fazer a escritura em qualquer altura, afirmou”.
Quanto a Miguel Machado, a advogada afirma que foi ele quem a “apresentou ao cliente” e confirma que o mesmo esteve em duas reuniões. Mas garante que não prestou qualquer serviço, nem foi remunerado. Miguel Machado, por seu lado, afirma que foi ele quem sugeriu o nome da colega a Inês Pedrosa e diz que não recebeu qualquer remuneração porque nada fez.
Também no final de 2008, a Câmara de Lisboa, através do mesmo director, encomendou a outros advogados três estudos igualmente relacionados com a criação da fundação. O facto de esses serviços não terem sido prestados, apesar de pagos por cerca de 28 mil euros, acabou por levar, em Outubro do ano passado, o Ministério Público a acusar Rui Pereira e duas advogadas, uma delas sua cunhada, pelos crimes de participação económica em negócio e falsificação de documento. 
O caso, que aguarda julgamento, fez com que Rui Pereira se demitisse, logo que foi acusado, das funções que desempenhava como director-geral do Instituto de Gestão Financeira e Equipamentos da Justiça. 

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Praxes - A propósito dos estudantes mortos no Meco

Na tragédia da praia do Meco, a 15 de dezembro de 2013, em que seis jovens universitários morreram e apenas um se salvou, existem suspeitas de que se perpetraram praxes académicas.
Tudo se esfuma em densa bruma.
Os colegas de faculdade dos jovens mortos, bem como o único sobrevivente da tragédia, remetem-se a um estranho e cúmplice silêncio.
Tudo está envolto num mistério, como se de associações secretas se tratasse. Dizem os colegas que tudo não passava de brincadeiras, para as jovens “se tornarem mais mulheres”, refere Mariana Barroso, mãe de uma das jovens morta, que não sabe especificar bem o teor das praxes. Apenas tem conhecimento de que passariam por provas de resistência.
Quem poderá esclarecer as dúvidas sobre o que se passou é o único sobrevivente do acidente, João Gouveia, Dux  (a figura com mais poder na hierarquia da praxe, e que, portanto, lidera a comissão de praxes) explicando nomeadamente por que razão os sete estudantes foram para a praia de traje académico, percorrendo cerca de sete quilómetros a pé. Sabe-se que todos pertenciam à Comissão Oficial de Praxe Académica, da Universidade Lusófona.
Mas os pais querem saber que praxe foram fazer e o que diz o Código da Praxe. Eu também, na minha qualidade de cidadã. Porem, ninguém nos dá resposta.
Tudo me provoca ainda maior repulsa pelas praxes académicas e militares. Este fenómeno, que no meu tempo de faculdade era desconhecido, pelo menos em Lisboa, é tão invasivo, que já se estende ao ensino básico, onde existem as madrinhas e padrinhos, cuja alegada missão de apoio à integração das crianças do 1.º ano, rapidamente se transformou em autoridade agressiva e violenta. É preciso lembrar que estas crianças, apenas de seis anos, vêm das creches, onde o mundo era infantil, solidário e ingénuo.
No caso do Meco houve seis mortes.
A violência e o conteúdo inusual deste infame fenómeno já causaram vítimas anteriormente. Registaram-se poucas queixas, certamente por receio de retaliações. Mas as que se tornaram públicas permitiram levantar um pouco o véu que sobre elas impende.
A sua sobrevivência e até exaltação é um caso de cumplicidade inadmissível entre diretores das escolas e universidades e as comissões de praxes. Recearão os responsáveis académicos a perda de popularidade e consequente diminuição de lucros das suas instituições? 
As praxes atravessaram transversalmente vários governos. Nenhum lhe pôs ponto final. A popularidade e os votos têm muito peso…

E, não obstante, é um imperativo legal e humano bani-las definitivamente.

As praxes:
·         São anacrónicas e atentatórias da dignidade humana.
·         Constituem uma prática de perseguição e uma inadmissível privação da liberdade individual.
·         Infringem a integridade moral e física das crianças e dos jovens.
·         O direito de aprender não pode, não deve ser sujeito a uma introdução prévia de agressões e de costumes, que não são brincadeiras ingénuas, mas assumem um cariz não só humilhante, como agressivo, sexual e violento.
·         Violam, assim, o art.º 25 da Constituição da República Portuguesa, que claramente estatui:

1.   “A integridade moral e física das pessoas é inviolável”.
2.    Ninguém pode ser submetido a tortura, nem a tratos ou penas cruéis, degradantes ou desumanos”.

·         Por outro lado, infringem ainda o “Princípio da Igualdade” (art.º 13º) que estabelece:

1. Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei.”

Assim sendo, que direito e liberdade assistem aos praxistas, que os torna superiores aos simples caloiros e lhes permite trata-los abaixo da dignidade humana, com a complacência de muitos colegas, professores e responsáveis superiores do Ministério da Educação?
Só numa sociedade medieval e arcaica as raparigas e os rapazes seriam submetidos a estas práticas indignas “para se fazerem homens e mulheres”.

A proibição das praxes é um imperativo humano e legal.

Coragem precisa-se.







sábado, 18 de janeiro de 2014

Ver para crer

Até ao fim idolatraram Hitler.
Até ao fim acreditaram que o regime nazi ocuparia o mundo e exterminaria o povo judeu, os ciganos, os homossexuais,  os deficientes, os indesejados, os que não fossem da "pura raça ariana".
Até ao fim, mesmo quando as forças aliadas libertavam os países ocupados, entravam vitoriosas no solo alemão e os soviéticos hasteavam a bandeira comunista no Reichstag, os alemães acreditaram num cabo de guerra, ditador, lunático e psicopata.
Todos sabiam da existência dos campos de concentração e do extermínio de milhões de pessoas, do trabalho escravo que alimentava a economia alemã, do transporte das pessoas como gado amontoado, que acabavam por morrer asfixiadas, no meio dos próprios excrementos. 
Muitas mulheres ofereciam-se como voluntárias para os campos de extermínio e, friamente, despojadas de humanidade e de alma, torturavam e matavam.

Falo dos alemães, naturalmente.
Os que não mataram, mas que calaram e se submeteram foram cúmplices do inominável horror.

É preciso que o povo alemão e todos os que negam os crimes do regime nazi vejam o filme de Hitchcock sobre o holocausto, que foi retido durante 70 anos até ser agora liberado.

mts
***

“Memória dos Campos” é conhecido como o documentário nunca visto de Alfred Hitchcock sobre o Holocausto.  A película, realizada em 1945 para mostrar aos alemães as atrocidades nazis e vetada pelos aliados devido à brutalidade das suas imagens, está finalmente pronta para ser mostrada ao público. 
Em 1945, Alfred Hitchcock ficou em choque. O “mestre do suspense” ficou tão horrorizado ao ver as imagens da chegada das tropas aliadas aos campos de concentração, no fim da Segunda Guerra Mundial, que ficou uma semana sem conseguir voltar aos estúdios. Em seguida, empenhou-se na produção do filme, que editaria as imagens chocantes para mostrar aos alemães a dimensão dos horrores do Holocausto.
No entanto, as autoridades britânicas consideraram o filme tão forte que não permitiram o seu lançamento oficial. Numa época em que as potências vencedoras estavam interessadas em reconstruir a Alemanha, uma obra que  apontasse o dedo e atribuisse responsabilidades à população alemã em geral, de forma tão poderosa, não seria a melhor solução.
O jornal Independent conta que as bobines de ”Memória dos Campos“, como se chamou a obra, ficaram durante anos armazenadas no Museu Imperial da Guerra. Em 1984, uma versão incompleta foi projectada no Festival de Cinema de Berlim. No ano seguinte, foi transmitida nos EUA, pela cadeia de televisão PBS, uma versão de baixa qualidade.
Foi apenas para os 70 anos da libertação da Europa do poder nazi, que se completam em 2015, que o museu decidiu restaurar o filme de forma a mostrá-lo, oficialmente, ao mundo.
Afinal, que filme é este?
São imagens da chegada das tropas aliadas aos campos de concentração, sendo recebidos pelos sobreviventes e, em seguida, recuperando os debilitados e encontrando os corpos dos que morreram por doença ou extermínios em massa.
Filmadas por soldados britânicos e soviéticos, as imagens revelam campos de concentração como AuschwitzBergen-Belsen (cerca de metade do filme), Buchenwald e Dachau.
Toby Haggith, curador principal do Museu Imperial de Guerra, descreve ao Independent que um dos comentários mais comuns entre os que viram as primeiras versões do filme era que o filme “era terrível e brilhante, ao mesmo tempo”.
A ser transmitido na televisão britânica em 2015, as projeções do filme serão acompanhadas de um outro documentário, “The Night Will Fall“, de André Singer." 
Crianças judias sujeitas a experiências médicas nos campos de morte.



quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Chamava-se Nelson Antunes.

Um miúdo de 15 anos enforcou-se numa árvore perto de casa. Chamava-se Nelson Antunes.
Não aguentou a humilhação das agressões a que foi sujeito por colegas, na escola.
Não aguentou o desamparo, a solidão, a falta de solidariedade, a incompreensão, a vergonha. 
Foi no recreio. Despiram-no. Troçaram dele. 

Ninguém deu por nada. Nem professores, nem auxiliares, ninguém, para além dos que causaram a sua morte precoce, na EB 2,3 de Palmeira, em Braga.

A Inspeção da Educação anunciou que investiga o caso. 
Abriu-se um inquérito.
É o remédio habitual: abrir inquéritos, onde, depois, nada se apura e tudo continua na mesma.

E os pais nunca se aperceberam de nenhuma diferença no comportamento do filho? Não repararam em nada, nem na tristeza, nem no nervosismo que, forçosamente, teria demonstrado? Não se aperceberam de nenhuns sinais de desespero? Pergunto apenas, sem julgar.

Que sistema educativo é este, que deixa que situações como esta aconteçam?


Que sociedade é esta, onde apenas se valoriza  a aparência, o dinheiro, o estatuto social?
O meu país está a afundar-se na ausência total de valores morais e humanistas.

As árvores do meu país, já não são árvores de jardim ou de campo. 
São árvores onde os velhos isolados e desamparados e os adolescentes humilhados e torturados, atam cordas em volta do pescoço, deixam cair os corpos frios e desaparecem para sempre.

Olhai gente digna, o país está a afundar-se. ACORDAI!


Chamava-se Nelson Antunes e tinha apenas 15 anos.

mts

Francisco Goya

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Banalidade do mal?

O mal não é, não pode ser, conceptualmente nem ontologicamente, banal. É, pelo contrário, o que de mais radical existe. Por isso está para além do nosso entendimento, da nossa imaginação, da nossa capacidade de verbalizar a realidade. Refiro-me, naturalmente, ao Holocausto e aos campos de concentração, no caso presente, mas poderia englobar, neste conceito, o regime estalinista.
Não existem na linguagem quotidiana termos adequados à narração do que ocorreu. Só talvez a poética ou a filosofia consigam tentar uma narrativa do horror. Porque nunca se tinha vivido nada de semelhante. Sabe-se bem o quanto custou aos sobreviventes tornar compreensível para os outros – os que escaparam aos campos e às gerações seguintes - a dimensão do terror que só eles viveram e testemunharam.
Antes de se chegar ao fim, à morte, passava-se por torturas impensáveis, por uma infinidade de escalas de dor, vivia-se um quotidiano inumano, irreal, que retirava aos condenados (judeus - na máxima escala - ciganos, homossexuais, deficientes, criminosos) a sua personalidade jurídica, o que constituía a sua primeira morte, mas também a sua pessoa moral. Os direitos do homem eram recusados e a identidade única do indivíduo esmagada. Aniquilados, atomizados, sem nada que os diferenciasse como seres humanos, reduzidos a uma massa imensa, silenciosa, destituída de vontade, sequer de um sinal de contestação ou revolta (recorde-se a estratégia de atribuir aos próprios judeus tarefas de organização nos campos, que tornava ardilosamente cúmplices carrascos e vítimas) os condenados marchavam para a morte, indiferentemente, como se nunca tivessem existido.
Este é o mal mais radical, mais absoluto, que consagrou o impossível, possível, que tornou o imperdoável simplesmente existente e todos os homens seres supérfluos, não existentes. Uma espécie de seres meramente objetos, sem nenhuma categoria possível.
Os responsáveis por semelhante terror, que na Alemanha nazi, quer na Rússia de Estaline, eram eles mesmos destituídos de vontade própria. “Tudo o que vocês são, são-no através de mim; tudo o que eu sou, sou-o somente através de vocês”, disse Hitler, num discurso perante a SA. A ideia de domínio permanente, quer do nacional-socialismo, quer do bolchevismo, em todas as esferas da vida de um indivíduo, em que até o pensamento era negado e o cumprimento indefectível de uma ordem era exigido, compreendia ainda uma devoção, um silêncio, e uma fidelidade totais, levadas às últimas consequências.
A palavra de Hitler, ainda que não escrita, tinha, para todos, força de lei. Aliás Eichmann, durante o seu julgamento em Jerusalém, considerou-se um cidadão exemplar, idealista, que sempre tinha cumprido o seu dever e a lei do Terceiro Reich, e que, como tal, teria enviado para a morte o seu próprio pai, se tal lhe ordenassem. Como bom e leal cidadão ofereceu-se, inclusivamente, para colaborar na “solução do problema judaico”.
Segundo Hannah Arendt, não era um escroque, não era um monstro. Era simplesmente um leal e metódico cumpridor das ordens do Führer e, nessa condição, foi promovido, em 1941, a um cargo equivalente a tenente-coronel, depois de lhe ter sido atribuído um papel importante na “Solução final”, como organizador, primeiro, de um centro de emigração judaica em Praga e, das inúmeras deportações depois.
Diz Hannah Arendt (in Eichmann em Jerusalém, uma reportagem sobre a banalidade do mal):
“Grande parte do horrível e laborioso perfeccionismo com que foi executada a Solução Final – muitas vezes qualificado como tipicamente alemão, ou como característico do burocrata perfeito – deve-se à estranha noção, assaz comum na Alemanha, de que cumprir a lei não significa apenas obedecer à lei, mas também agir como se cada um fosse o legislador de leis a que obedece. Daí a convicção de que não basta cumprir o dever, é preciso ir mais além.”
Contrariamente ao que Hannah Arendt afirmou sobre Eichmann, que, segundo ela, estava destituído da capacidade de pensar, ele afirmou ter vivido toda a sua vida de acordo com os preceitos morais de Kant e com a sua definição de dever. Até tinha lido a Crítica da Razão Prática daquele filósofo. O imperativo categórico do Terceiro Reich, adaptado de Kant, seria: “Age de tal maneira, que se o Führer tivesse conhecimento dos teus atos, os aprovasse”.
Como poderia este homem ser incapaz de pensar?
Segundo afirmou, no final do seu julgamento, “a sua culpa consistia em ter obedecido, e a obediência é uma virtude.”
A expressão de Hannah Arendt “a banalidade do mal” que serviu de subtítulo ao seu livro, aparece apenas no final do mesmo, que ela considera um “longo estudo sobre a maldade humana – a lição de uma realidade terrível, que se situa além daquilo que as palavras podem exprimir e o pensamento pode conceber: a banalidade do mal.”
Não lhe acrescenta qualquer análise filosófica que a justifique e apenas, depois da polémica que gerou em todo o mundo, acrescentou um “Pós- Escrito” nas edições seguintes, defendendo-se com o facto de esta obra ser apenas “o relato jornalístico de um julgamento” e não um tratado teórico sobre a natureza do mal.
Fica-se com a ideia de que a “banalidade do mal” cumpria mais a função de propaganda do livro do que qualquer outro objetivo.
Para Hannah o mal é banal na medida em que o identifica com as características vulgares de Eichmann, em quem não existia “qualquer profundidade diabólica ou demoníaca”. Esclarece a autora que “Eichmann não era estúpido. O que fez dele um dos maiores criminosos da sua época foi a total ausência de pensamento”. Mas tal afirmação apenas pertence à autora e não foi sequer abordada em tribunal, parecendo até contraditória com o que se foi conhecendo dele ao longo do julgamento.
Para quê falar em banalidade do mal, sem qualquer suporte teórico ou desenvolvimento conceptual, contradizendo as afirmações anteriores na sua grande obra de referência “As Origens do Totalitarismo”, onde afirma: “O aparecimento de um mal radical antes ignorado põe fim à noção de gradual desenvolvimento e transformação de valores”
A tradição filosófica ocidental refere o “mal radical”, assim nomeado por Kant, sem, contudo, conseguir explica-lo. Confere-lhe uma existência que só nos campos de concentração viria a ter um lugar insofismável, irresistível e definitivo, concebido e executado por regimes totalitários.
A história tem demonstrado que os movimentos totalitários não se extinguiram. Apenas estão adormecidos, isolados, ou silenciados. O mal, esse, deixou raízes.

 mts
 Auschwitz
 

sábado, 4 de janeiro de 2014

O empobrecimento dos portugueses

O Governo vai, paulatinamente, conseguindo os seus intentos, os da Troika e da sr.ª Merkel, ziguezagueando entre as decisões do Tribunal Constitucional.

O mais aterrador dos seus objetivos, há muito anunciado, com a enorme frieza dos que desafiam, fria e calculadamente, o silêncio aterrador da maior parte da população e a ineficácia da oposição, é o empobrecimento dos portugueses.

Não há quem não o sinta na carteira, no mês que sobra, no emprego que não volta, na pensão que definha, na incapacidade de aceder aos cuidados de saúde, de pagar a casa, a comida e a conta da farmácia.

Não pretendo ser exaustiva.
Ficava exausta.

Perdão, há quem não tenha estes problemas porque é imensamente rico. Provavelmente 1% da população. Esses banqueteiam-se com os lucros, com as moradias de luxo, os iates e as contas a cresceram em bancos estrangeiros.

Mais uma vez não pretendo ser exaustiva.
Ficava Exausta.

Historicamente, os movimentos totalitários apareceram quando os regimes apodreciam pela inércia e ineficácia dos partidos. Sustentaram-se nas “massas”, considerando como tal a imensa maioria atomizada, inerte, amorfa, neutra, que não se filia em partidos, que ostenta, com jactância ou até mesmo silenciosamente, a sua indiferença em relação aos negócios públicos e às questões de política e raramente exerce o seu direito de voto ou a sua cidadania. Foram estas “massas” o húmus dos ditadores que as souberam manipular, por uma capacidade invulgar de propaganda política. Foram estas massas que aceitaram tudo o que lhes era exigido até à perda absoluta da sua dignidade.

Parece-me que estamos a chegar, se é que não chegámos já, a esta situação.

Não preciso de ser exaustiva.
Estou exausta.

Mas estou bem acordada e não sou tapete de ninguém.

mts


 Foto: Sean Izzard

O amor e a imortalidade

Love is a mortal sample of immortality.
O amor é uma amostra mortal da imortalidade.

Fernando Pessoa 



Escultura: Stephan Sinding - Un homme et une femme, 1891

Torre Eiffel

Como tudo na vida, começa-se pelo primeiro passo e vai-se ascendendo com esforço e pertinácia.
Por vezes o caminho é rochoso e cada momento é mais difícil que o anterior.
Raras vezes a felicidade é duradoura. 
Mas são os escassos momentos suaves e luminosos que nos dão forças para prosseguir a caminhada.
Até um dia.

A construção da Torre Eiffel.

Ano Novo?

O Ano Novo não é mais do que uma continuação, sem quebras, do anterior. Chamam-lhe novo porque, artificialmente, criaram uma fratura, que não existe, entre o que precede e o que lhe sucede. 

Ruidosamente celebra-se o quê? Esperança? O enterro do velho? Falsas promessas dos políticos?

O tempo é uma sequência de acontecimentos encadeados entre si, até ao infinito.
Melhor do que gritar e pular e perder-se na embriaguez das zero horas é, para mim, rever o que se fez, meditar, e identificar aquilo que devemos emendar, para progredir na senda do nosso caminho de vida.

No silêncio, em comunhão com o nosso eu interior e com quem amamos, podemos encontrar algumas respostas às questões que nem sempre ousamos colocar, por receio.

Que cada um viva o seu tempo da melhor forma que puder e souber.

mts



© Christopher Schlaf