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sábado, 7 de janeiro de 2017

Mário Soares

Mário Soares [7/12/1924 – 7/1/2017]

Hoje estou triste. Tenho um único desejo: que descanse em paz este homem, combatente pela democracia contra o poder ditatorial de Salazar e de Caetano, que sofreu na pele a repressão, por defender os seus ideais, e que amava a vida com alegria e entusiasmo.
Não fui sua apoiante política, mas fui esperá-lo a Santa Apolónia quando chegou do exílio e votei nele para Presidente da República.
Era um republicano, liberal, polémico, lutador pelos direitos humanos, pela liberdade, pela democracia e pela paz, uma referência única para o Partido Socialista Português, de que foi fundador, e sê-lo-á, certamente para Portugal e para a Europa também.
Recordo, na sua partida definitiva, apenas os aspetos positivos, porque são mais importantes, a meu ver.  
Lembro Mário Soares como uma pessoa singular, de grande coragem, culto, com uma enorme capacidade de diálogo e de tolerância, incansável lutador, que aceitava as derrotas com bonomia, pronto para voltar à luta no momento seguinte. Traçou o seu caminho contra ventos e marés e marcou indubitavelmente os destinos de Portugal. Viveu intensamente, sem nunca se resignar, com sentido de humor, prazer e jovialidade.
Nada mais me importa, a não ser que morreu um HOMEM, um fazedor de destinos, que acabou por ser um vencedor.

mts

Preso pela PIDE várias vezes.
 Com Maria Barroso, sua mulher e companheira de sempre. a quem escreveu este poema, 
quando se encontrava encarcerado na prisão do Aljube, no ano 1962:

Para ti
Meu amor
Levanto a voz
No silêncio
Desta solidão em que me encontro
Sei que gostas de ouvir
A minha voz
Feita de palavras ternas e doces
Que invento para ti
Nos momentos calmos
Em que estamos sós
Sei que me ouves
Agora…
… uma vez mais
Apesar da distância
E do silêncio
Opera esse milagre
Simples
Como tudo o que é natural


 No comboio que o trazia de regresso do exílio.
 Chegada a Santa Apolónia
 Com Álvarto Cunhal no 1.º de Maio de 1974
Célebre debate televisivo com Álvaro Cunhal
Alegria de viver.

domingo, 1 de janeiro de 2017

A Paz Sem Vencedor e Sem Vencidos

O título deste poema da grande Sophia foi mote para o discurso de Ano Novo do novo Secretário Geral da ONU, António Guterres.
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A PAZ SEM VENCEDOR E SEM VENCIDOS
Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos 
A paz sem vencedor e sem vencidos
Que o tempo que nos deste seja um novo
Recomeço de esperança e de justiça.
Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos
A paz sem vencedor e sem vencidos
Erguei o nosso ser à transparência
Para podermos ler melhor a vida
Para entendermos vosso mandamento
Para que venha a nós o vosso reino
Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos
A paz sem vencedor e sem vencidos
Fazei Senhor que a paz seja de todos
Dai-nos a paz que nasce da verdade
Dai-nos a paz que nasce da justiça
Dai-nos a paz chamada liberdade
Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos
A paz sem vencedor e sem vencidos
~~
Sophia de Mello Breyner Andresen
War and Peace serigrapy. Pablo Picasso 

Ode à Paz

Neste Dia da Paz não posso deixar de a assinalar com dois dos poemas de que mais gosto sobre este tema:
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Ode à Paz
Pela verdade, pelo riso, pela luz, pela beleza,
Pelas aves que voam no olhar de uma criança,
Pela limpeza do vento, pelos actos de pureza,
Pela alegria, pelo vinho, pela música, pela dança,
Pela branda melodia do rumor dos regatos,
Pelo fulgor do estio, pelo azul do claro dia,
Pelas flores que esmaltam os campos, pelo sossego dos pastos,
Pela exactidão das rosas, pela Sabedoria,
Pelas pérolas que gotejam dos olhos dos amantes,
Pelos prodígios que são verdadeiros nos sonhos,
Pelo amor, pela liberdade, pelas coisas radiantes,
Pelos aromas maduros de suaves outonos,
Pela futura manhã dos grandes transparentes,
Pelas entranhas maternas e fecundas da terra,
Pelas lágrimas das mães a quem nuvens sangrentas
Arrebatam os filhos para a torpeza da guerra,
Eu te conjuro ó paz, eu te invoco ó benigna,
Ó Santa, ó talismã contra a indústria feroz.
Com tuas mãos que abatem as bandeiras da ira,
Com o teu esconjuro da bomba e do algoz,
Abre as portas da História,
deixa passar a Vida!
~~
Natália Correia

Rafal Olbinski. Paz