Publicação em destaque

domingo, 16 de agosto de 2020

ESPERANÇA

Quantas chuvas já varreram

as melodias de vento que tu escrevias

nas areias do meu estio

Desde então concebi novas primaveras

todas elas tão enganadoras

como esta vontade de partir

de te abandonar no ermo da memória

Mas só tu resististe à gelada solidão do Inverno

Hoje bates-me sorrateiramente à porta

e eu escondo o passado no ventre da esperança

para te receber.


Maria Teresa Sampaio

Plums Blossom, 1879. Oscar-Claude Monet

quarta-feira, 5 de agosto de 2020

Tristeza

“A mãe está tiste?”

― a mãe soluçava,

mal via a estrada e os carros.

“A mãe está tiste?

A mãe tem dói-dói?”

― a mãe mordia o lenço para

não gritar de desespero.

Naquele momento, 

era apenas uma criança

com olhos esbugalhados de espanto

alma dilacerada

e mãos vazias de estrelas.

 

Maria Teresa Sampaio

Picasso