Pierre-Auguste Renoir
[Limoges, 25 de fevereiro de 1841 — Cagnes-sur-Mer, 3 de dezembro de 1919]
O irmão mais novo, Edmond Renoir,
traçou–lhe o retrato, a pedido dos editores de La Vie Moderne. Tinha um ar
pensativo, melancólico, o olhar perdido. Esquecido e desordenado, andava sempre
a correr na rua e, no entanto, capaz de ficar sem se mexer e sem falar durante
horas, a pensar num novo quadro. Falava o menos possível de pintura, mas se
quisessem ver o seu rosto iluminar-se, cantarolar um alegre refrão, não era à
mesa nem em lugares de diversão que o deviam procurar, mas sim surpreendê-lo a
trabalhar.
O crítico de arte Georges Rivière
referiu que quando o pintor entrava no café da Nouvelle-Athènes, vinha com o
passo apressado, ar sério e distraído, porque a imaginação conduzia-o para bem
longe do lugar onde estava. Sentava-se a um canto, misturando-se raramente na
conversa geral, indiferente ao que se contava em seu redor, dava voltas entre
os dedos, a um cigarro, que acendia e deixava continuamente apagar-se ou
rabiscava sobre a mesa um contorno insignificante com um fósforo apagado.
Formação e primeiras obras
Pierre-Auguste Renoir nasceu em
Limoges (França), em 25 de Fevereiro de 1841, quarto filho de um modesto alfaiate
e de uma operária. Tendo revelado uma habilidade precoce para o canto e o
desenho, ao terminar a escola primária, o pai quis que aprendesse o ofício de
pintor de porcelana. Aos treze anos começou a trabalhar, como aprendiz, numa
oficina de pintura de porcelanas, em Paris, para onde a família se tinha
mudado. Esse trabalho foi essencial para a sua convicção de que o trabalho de
pintor é fortemente artesanal. O dinheiro que conseguiu poupar durante os
quatro anos de assalariado, não apenas na pintura de porcelanas como também de
leques, permitiu-lhe ingressar na Escola de Belas Artes, enquanto frequentava,
simultaneamente, a academia do pintor Gleyre. Aqui iniciou a sua amizade ― e
mais tarde a aventura impressionista ― com Claude Monet, Alfred Sisley e
Frédéric Bazille. Esforçou-se, como mais nenhum dos amigos do Café Guerbois,
por cumprir a sua formação, participando em concursos e passando nos exames. A
determinação e perseverança de que daria provas ao longo de toda a vida,
principalmente, face à doença, foram características que logo se evidenciaram.
Em 1864 apresentou pela primeira
vez uma obra no Salão oficial (Salon), que dominava então o panorama artístico
da época, regido por padrões classicistas. Mas foi só em 1868, com ‘Lise’, que
captou o interesse do grande escritor Émile Zola e de raros críticos de arte
oficiais, que se regiam pelos cânones até então impostos pela Academia, a
Escola de Belas Artes e o Salão oficial. Impressionou pela precisão dos
efeitos, a delicadeza da gama de cores e principalmente pelo encantamento da
luz. Começava já a interessar-se profundamente pelo comportamento da figura
humana sob intensa iluminação e por representá-la através da vegetação. São
desta época os retratos que pintou da mãe, do pai, dos pintores seus amigos,
Sisley, Basille e Jules Coeur , “Le Cabaret de la mère Antony“, “Diane chasseresse”, “Lise à
l'ombrelle”, “La Grenouillère” e “La Bohémienne”, alguns
retratos para a “avant-garde” literária daquele tempo, como, por exemplo, ”Madame Daudet”, esposa do escritor Alphonse
Daudet.
Período Impressionista (1869-1883)
Renoir e os seus companheiros
impressionistas deixam de “olhar” ou de “perceber” os objetos como possuidores
de cores absolutas, uma vez que estes são condicionados por vários e
importantes fatores, até então não tidos em conta, como: a luz que sobre eles
incide, a própria ação da atmosfera que os envolve e a coloração do ambiente em
que se inserem. Passaram a exprimir a impressão colorida que o olhar capta, a
sua sensação em contacto com a luz. A luz que banha todos os objetos também dilui
os seus contornos no fundo. As pinceladas são curtas, de pequenos pontos e
vírgulas, que, mais tarde, em Renoir, podem dar lugar a pinceladas mais amplas
e soltas também. O pintor assume já um estilo muito pessoal, que perdurará em
toda a sua obra: tratamento da cor e das sombras coloridas da folhagem;
múltiplas e diversas vibrações da luz e seus diversos cambiantes com as horas
do dia; efeitos da luminosidade nos corpos ou os reflexos na água. Em 1969, o interesse
pela pintura ao ar livre levou Renoir e Monet a montar os cavaletes em La
Grenouillère, numa ilha do Sena, onde plenamente submersos em luz, captaram a
natureza, como uma fonte de sensações, na sua forma mais imediata possível,
retendo a muito mais a impressão geral do que os detalhes. As obras que Renoir
e Monet pintaram nesse ano são consideradas por muitos como o início do Impressionismo.
Viviam pobremente, mas preocupava-os mais a falta de dinheiro para comprar as
tintas do que para comer. Numa carta a Bazille (cerca de 1870), Renoir
escreveu: “Apesar de não comermos todos os dias, estamos de boa disposição”. O
que sempre lhe importou foi transmitir a beleza e alegria de viver. Nos seus
quadros nunca transpareceu o menor laivo de sofrimento, a que ele próprio não
foi alheio.
Depois de ter sido mobilizado durante
a Guerra Franco Prussiana, em 1870, Renoir iniciou um período de trabalho
intenso e, a 15 de abril de 1874, juntamente com Pissaro, Monet, Sisley, Degas,
Cezanne, Guillaumin e Berthe Morisot, participou na primeira exposição
impressionista que passou a ser conhecida como sendo organizada. Alguns dos
quadros que então pintou, como “Le Balançoire” o célebre “Le Bal au Moulin de
la Galette”, viriam a ser entusiasticamente recebidos pelo público da terceira
exposição impressionista, em 1877. Os temas que, então, trata parecem surgir de
uma sintonia muito pessoal com a alegria de viver e o otimismo das personagens
de origem mais modesta, que retrata em lugares onde afluem, para celebrar
motivos de festa populares. Visita frequentemente Manet em Argenteil, (próximo
de Paris e muito na moda, nesse tempo) onde pinta, retratos do amigo e da
família e ainda “Les Canotiers à Chatou”, “La Seine à Argenteuil”, “Chemin montant dans les
hautes herbes”. No célebre “Le Déjeuner des canotiers”, a jovem à mesa, que
aparece, em primeiro plano, brincando com um cãozinho, viria ser a mulher do
artista, Aline Victorine Charigot . São deste período, entre
muitas outras obras, “Rose et bleue/
Alice et Élisabeth Cahen d'Anvers”, “Jeunes
Filles en noir”, “Les Deux Sœurs/ Sur la terrasse”, “La Femme à
l'éventail”, “Jeanne Henriot/ Fillette au chapeau bleu”, “Jeune Fille
algérienne”,” Bal à Bougival, ou Danse à Bougival”, “Danse à la campagne”
e “Danse à la ville”, “Femme algérienne”, “La Mosquée/ Fête árabe” e alguns nus
femininos que, a par da representação de crianças, começam a destacar-se na sua
obra.
A fama de Renoir aumentou e passou
a vender regularmente os seus trabalhos, deixando de ser assolado por problemas
económicos. Em 1883 o galerista Paul Durand-Ruel, que o tinha descoberto na
década anterior e reconhecido o talento, organizou uma exposição especial sobre
a sua obra.
Entretanto, no grupo dos
impressionistas era já notória a perda de coesão. Para Renoir as viagens que
realizou a Argélia e a Itália, onde conhece diretamente as pinturas pompeiana e
de Rafael, bem como a leitura da tradução francesa do “Livro dell Arte”, de
Cennino Cennini (pintor florentino de finais do séc. XIV), que é um "manual
de instruções" sobre a arte do Renascimento,
tiveram nele um profundo impacto. Com a humildade que sempre o caracterizaria, concluiu
que depois de ter esgotado as possibilidades do impressionismo, tinha de
reaprender a pintar e a desenhar. Foi então que destruiu algumas obras dando os
primeiros passos num novo caminho da sua arte.
Período Ingresco ou Seco (1883-1887)
Assim,
no oitavo e último salão dos impressionistas, em 1886, já Renoir não
participou.
Por
essa altura, Paul Durand-Ruel apresentou 32 dos seus quadros em Nova
York, o que em muito contribuiu para abrir o mercado norte-americano, não só ao
pintor, como também aos outros impressionistas.
Deixa
Paris, afasta-se do impressionismo e, aos poucos, os temas preferidos deixam de
ser a representação das cenas da vida quotidiana ou de festas populares, que
lhe tinham sido tão queridas, optando pela pintura de figuras utilizando um desenho
de contornos mais precisos e por toques delicados de cor. Se nas suas primeiras
obras se notava a influência de Courbet, agora é Ingres que o conduz ao
abandono das cores vibrantes da etapa impressionista. Compõe, entre outras, as
seguintes obras: “Suzanne Valadon”, “Fillette au cerceau”, “Les Parapluis”
(1881-1886), mas a obra mais representativa deste período é “Les Grandes
Baigneuses” (1884-1887).
Período Iridescente ou Nacarado (a partir de 1888 )
Continua a realizar experiências com
a pintura, como fazia desde o início dos anos oitenta, acabando por regressar
às colorações vibrantes, aplicadas com pinceladas mais longas e soltas (longe
da disciplina da fase “seca”anterior), que adquirem em muitos casos, um tom
nacarado, para chegar, enfim, nos últimos anos da sua vida, a uma síntese dos
estilos anteriores.
O nu feminino assume particular
destaque na sua obra, nele recriando os efeitos possíveis da luz sobre os
corpos, conjugados com uma plenitude cromática e pictórica em perfeita harmonia
com a sensualidade das formas e a celebração dos sentidos. O tema pictórico bem
como os valores imediatos e vitais são os mesmos do impressionismo mas assumem,
agora, um procedimento mais universal e até intemporal na pintura das
personagens femininas. A propósito, disse o pintor: “ Eu gosto dos quadros que convidam
a passear por dentro, se for uma paisagem, ou então a passar a mão por um peito
ou por umas costas, se for uma figura feminina”.
Também as cenas domésticas e as
crianças são abordadas com uma particular sensibilidade, gentileza e a calorosa
resposta ao mundo e à vida que imprimiu em todos os quadros. Pretendeu sempre e
conseguiu representar motivos e cenas com um caráter amável, desprovido de
carga dramática, a que não é alheia a veia sentimental herdada dos mestres
franceses do séc. XVIII e, principalmente uma evocação poética da vida banhada
por uma luz calorosa.
Os retratos por encomenda, de
personalidades da alta burguesia, foram para o pintor uma importante fonte de
subsistência, que lhe permitiam dedicar-se, em paralelo, aos temas que preferia.
De origens bastante humildes, sabia distinguir entre o que lhe permitia
sobreviver em épocas de maior dificuldade, da pintura que para ele era
verdadeiramente importante e da qual nunca abdicou durante toda a sua vida.
Em 1892, noutra exposição organizada
por Laurent-Druel, que apresentou cento e dez quadros da autoria do pintor,
Renoir teve o merecido sucesso e o reconhecimento oficial, quando o Estado
francês, apesar da habitual relutância em relação aos Impressionistas, tantas
vezes confundidos com anarquistas, lhe comprou pela primeira vez uma obra.
Oito anos mais tarde, o
Metropolitan Museum de Nova York comprou, num leilão, o famoso retrato de “Madame
Georges Charpentier et ses enfants” (de 1878).
” Gabrielle e Jean”,” Jeune
Espagnole jouant de la guitare”,” La Jeune Mère”,” La Toilette”, “Jean Renoir
dessinant”, “Baigneuse”, “Ode aux fleurs/ Ode aux fleurs d'après Anacréon”,
“Claude Renoir jouant”,” Quatre études de Jean”” Gabrielle lisant”,” La
Toilette: femme se peignant”,” Nu couché, vu de dos/ Le Repos après le bain”,
“Autoportrait au chapeau blanc”, "Paul Durand-Ruel”, “Les Laveuses”.
O quadro mais emblemático das
pesquisas e experiências que o pintor realizou
no final da sua vida é, porém, “Les Baigneuses”, pintado na tradição de Tiziano e de Rubens
(que admirava tanto) e que nos devolve
um olhar idílico sobre a natureza de características mediterrânicas, serenidade
do todo, plenitude e sensualidade das formas nuas. É o espírito intemporal do classicismo grego
e romano que o pintor nos transmite: “a terra era o paraíso dos deuses”. “Eis o
que eu quero pintar”, acrescentava.
Foi considerado o testamento pictórico
de Renoir e como tal doado pelos filhos ao Estado francês, em 1923.
A doença. A superação da dor pela arte.
No final dos anos oitenta do
século XIX já Renoir sofria de crises agudas de reumatismo. Pensa-se que terão
sido desencadeadas por um traumatismo provocado por uma queda de bicicleta em
1897, ou, pelo menos reveladas na sequência da mesma, embora uma fotografia do
ano anterior mostre já um inchaço bastante evidente nas articulações das mãos,
quando o pintor tinha 55 anos. Várias articulações foram atacadas (membros
superiores, pés, joelhos, coluna cervical, etc.) no decurso da evolução da
doença, classificada, mais tarde, como poliartrite crónica evolutiva. Embora
não existam registos médicos sobre o estado clínico de Renoir, o seu debilitado
estado de saúde era conhecido e falado ao seu tempo, com a designação genérica
de “reumatismos”, assim mesmo, no plural, tantas e tão diversas eram as manifestações
físicas no corpo deformado do artista e, graças às fotografias, cartas pessoais
e notas biográficas das pessoas que com ele privaram e o conheciam melhor, foi possível reconstituir de
forma aproximada a evolução da doença. Os conhecimentos científicos a este
respeito, no séc. XIX, eram escassos, deixando os médicos perplexos. Contou Jean
Renoir, (filho do meio, que viria a tornar-se internacionalmente conhecido como
realizador do cinema francês ), que sempre que o motorista do pai chegava a Les Collettes (quinta que tinha comprado em
1907) com um novo médico, “este examinava Renoir, abanava a cabeça e declarava
que a ciência ignorava tudo esta forma de Reumatismos”
Sabe-se, isso sim, que o clima
frio e húmido de Paris no inverno, e mesmo no Outono, era detonador de crises
cada vez mais dolorosas, razões que levaram Renoir a instalar-se, em 1903, na Côte
d'Azur, em Cagnes-sur-Mer, cujo clima mediterrânico lhe era muito mais
favorável.
As dores de que padecia,
frequentemente relatadas, estão relacionadas com a natureza inflamatória da artrite
reumatóide. Roger Marx, na sua Biografia de Renoir, menciona-as, como
verdadeiras “torturas”, que, porém, não só nunca o impediram de pintar como
também não tiveram o mínimo reflexo na sua arte. A sua cronicidade marcava
inexoravelmente o avanço da doença. De ano para ano emagrecia assustadoramente,
e perdia massa muscular. É o próprio pintor que refere numa carta, sem perder o
bom humor: "É impossível ficar sentado porque sou extremamente magro. Não
pode haver gordura em quarenta e seis quilos. Os meus ossos estão a furar a
minha pele, apesar do meu bom apetite".
O ombro direito ficou
anquilosado, as mãos terrivelmente deformadas, “encarquilhavam-se”. Com a rutura
dos tendões extensores dos dedos e dos punhos, o polegar curvava-se para a
palma da mão e os outros dedos em direção ao pulso. Conta-se que os visitantes
tinham dificuldade em desviar o olhar de semelhante invalidez e, não obstante,
foi com estas mãos estropiadas que Renoir, segundo contou um dos seus netos,
continuou a enrolar os cigarros e pintou cerca de 400 obras. A pele tornara-se
tão fina que qualquer contacto
com a madeira dos objetos era suficiente para a ferir. Gabrielle (ama dos
filhos, que se tornou o seu modelo predileto) conta que passaram a colocar na
palma da mão e entre as falanges fitas de tecido muito fino que dava impressão
de terem ligado os pincéis às mãos. Quando caíam ela voltava a dar-lhos. Mas o mais surpreendente, segundo ela, era o seu olhar de lince: “Por vezes
ele diz-me para tirar “dali”, um pelo de pincel que se colou à tela. Eu procuro
e não encontro nada e é este senhor que mo mostra, minúsculo, escondido num
empastamento”.
Quando o filho mais novo, Claude
(Coco) nasceu, o pintor tinha já 60 anos, e o seu estado geral era
extremamente preocupante e doloroso. Jean Renoir contava que o pai obedecia a
um sistema de trabalho tão duro que, nessa idade já os sinais de velhice eram muito
visíveis: “o rosto estava devastado, afundado, enrugado, a barba rala, os olhos
pequenos piscavam, brilhantes, húmidos, doces e bons, sob as sobrancelhas
espessas.”
Outros relatos referem que o
pintor terá sido acometido por uma pleurite e, posteriormente, por uma
paralisia facial, tratada, então, com eletroterapia. Como os nódulos nas
costas se tinham tornado muito incómodos, foram-lhe extraídos.
A doença avançou, implacável, para
as pernas e os pés, imobilizando-o, frequentemente. Quase não comia e pesava cada
vez menos. Havia dias em que se sentia de tal forma anquilosado que tinha de se
apoiar em duas bengalas.
Deixou de conseguir usar sapatos:
os pés deformados apenas suportavam chinelos de lã. Mesmo assim, foi afetado
por uma gangrena num pé, em 1918, e por escaras, apesar de todos os cuidados.
Os esforços despendidos para andar, na sua débil condição física, eram tão
grandes, que Renoir não hesita em afirmar:
”quanto a escolher entre andar e
pintar, eu gosto ainda mais de pintar.”
Quando deixou de andar passou a
ser transportado em cadeira de rodas ou numa espécie de liteira. Nunca
desistiu.
De novo Jean Renoir recorda: “E é
nestas condições físicas, que seriam para os outros homens, um inferno, que
Renoir vai pintar as suas mais belas obras, superando as da juventude e da maturidade."
Lembra ainda que, nos últimos anos de vida do pai, quando o seu estado era de
extrema fraqueza e já não podia mesmo andar, “mas queria pintar até ao último
suspiro, mandou construir um estúdio de vidro onde podia ver a sua "modelo"
nua no jardim. Foi um magnífico exemplo de coragem humana."
Já com as mãos irremediavelmente
deformadas e inválido a cem por cento, pintou
o quadro “Les Baigneuses” (1918-1919), que como disse a Henri Matisse,
considerava “o cume e a síntese da sua arte”.
Não só nunca deixou de pintar,
como começou, até, a esculpir, em detrimento do seu estado de saúde, com uma
determinação ilimitada. Os olhos substituem as mãos, dando orientações e
corrigindo as formas moldadas por um aluno de Maillol, Richard Guino, que
seguindo as suas instruções, fez o belo bronze da "Vénus Victorious",
como era o seu grande desejo. “Sob este sol queremos ver Vénus em mármore ou
bronze misturadas com folhas."
Conta de novo Jean Renoir que: “Em
setembro de 1919, Renoir é um esqueleto atormentado pela dor, um saco de ossos
e pele que nada a não ser a pintura pode apaziguar”.
Até ao fim da vida, em 1919,
pintou cerca de 6.000 quadros. Nesse ano levaram-no de cadeira de rodas ao
Louvre, onde viu um dos seus quadros ao lado de Veronese, tendo então afirmado:
“Creio que, aos poucos, começo a perceber disto.”
Nem o sofrimento o venceu nem a
fama o envaideceu.
No dia 2 de dezembro de 1919,
quando tinha acabado de pintar uma natureza morta com maçãs, Renoir fechou os
olhos para sempre. Conforme explicou Jean Renoir não morreu da pneumonia que
tinha, de facto, mas sim de uma paragem cardíaca.
Para este homem de caráter
humilde e determinado, que foi um verdadeiro génio da cor de toda a história da
arte, o sofrimento só podia ser ultrapassado pelo seu ofício constante de
pintar. Com toda a naturalidade, incansavelmente, dedicar-se-ia a superar os
seus limites, sem deixar que o mínimo traço de infortúnio, de aflição, pudesse
ser vislumbrado nos seus quadros. O seu legado artístico é um autêntico hino ao
otimismo, à felicidade e à harmonia. A arte de Renoir transmite uma intensa
vitalidade e um esplendor quase animal. Quer represente cenas da vida quotidiana
ou familiar, a boémia parisiense, os artistas pobres, retratos da alta
burguesia, da sua família ou dos amigos, nus femininos, festas do povo, paisagens
ou naturezas mortas, tudo Renoir pintou com ternura e uma imensa gentileza.
A síntese da sua vida e obra é
feita pelo próprio nas palavras nos deixou:
“A dor passa, mas a beleza permanece."
“A dor passa, mas a beleza permanece."
~~
Maria Teresa Sampaio
Le Déjeuner des canotiers_1880-1881. The Phillips Collection. Washington. USA
A jovem à mesa, que aparece, em primeiro plano, brincando com um cãozinho,
viria ser a mulher do artista, Aline Victorine Charigot
'Le cabaret de la Mère Antony à Bourron-Marlotte, 1866. National Museum, Stockholm.
Lise à l'ombrelle, 1867. Museu Folkwang, Essen
Chemin montant dans les hautes herbes. 1876-77. Musée d'Orsay, Paris.
Rose et bleue (Alice et Élisabeth Cahen d'Anvers). 1881. Museu de Arte de São Paulo
Jeunes Filles en noir. 1881. Musée Puschkin. Moscou.
Les Deux Sœurs ou Sur la terrasse. 1881. Chicago Museum
La Femme à l'éventail. 1881. L´Hermitage. S. Petesburg
Jeanne Henriot (Fillette au chapeau bleu). 18881. Coleção particular
Mère etenfant. 1881. Fundação Barnes, Merion (Pennsylvania)
Les Parapluies. 1883. National Gallery. London.
Bal à Bougival (Danse à Bougival). 1882-83. Museu das Belas Artes de Boston
Danse à la campagne. 1883. Musée d'Orsay, Paris
Danse à la ville. 1883. Musée d'Orsay, Paris
Femme algérienne. 1883. Coleção particular.
Suzanne Valadon. 1885. National Gallery of Art, Washington D.C.
Suzanne Valadon. La Natte. 1887. Museum Langmatt, Baden (Suíça)
Les Grandes Baigneuses. 1887. Philadelphia Museum of Art.
Jeune Femme se baignant.1888. Coleção particular
Petite fille à la gerbe. 1888. Museu de Arte de São Paulo
Jeunes Filles lisant (Les Deux Sœurs). 1889. Coleção particular
La Marchande d'oranges. c.1889. National Gallery of Washington
Jeunes filles au piano. 1892. Musée d'Orangerie, Paris.
Gabrielle et Jean (Renoir). 1895. Musée de l'Orangerie, Paris
La Promenade (La Jeune Mère) . 1875-76. The Frick Collection, NY
Pierre-Auguste Renoir. Autoportrait, 1876- Fogg Art Museum, Cambridge. Massachussets
Les Baigneuses. 1918-1919. Musée d'Orsay, Paris.
Escultura: Vénus Victorieuse. 1914-1915
II. A Doença de Renoir
Mão esquerda completamente deformada pela artrite.
Mão direita igualmente deformada
Renoir com as suas mãos deformadas e ligadas para poder pintar.(Photograph from British
Medical Journal's published December 20, 1997 'How Renoir coped with rheumatoid arthritis' article
Renoir pintando no jardim da sua casa na Côte d'Azur
Renoir, Aline, (a mulher) e Coco (o filho mais novo). 1912
Renoir no seu estúdio, em 1912.
Renoir, pintando na cadeira de rodas, no seu estúdio
Bibliografia
Hans Platte. Les Impressionistes.
Ed. B. Arthaud, Paris 1962.
Encyclopédie des Arts Illustrée.
Préface de Raymond Cogniat. Président d’Honneur de l’Association Internationale
dês Critiques d’Art. Éditions du Livre d’Or, Flammarion, Paris, 1964
L'Impressionnisme et son époque
(coffret de 2 volumes) Poche – 29 septembre 1987. Sophie Monneret (Auteur). Editeur
: Robert Laffont (29 septembre 1987). Poche.
Renoir. Realização e Edição : Globus
Comunicacion, S.A. Coordenação de João Kohl. Texto de José Manuel Lopez
Blásquez. Madrid, 1994.
© RMN-Grand Palais (Musée
d'Orsay) / Hervé Lewandowsk
Renoir. Roger-Marx Claude,
Librairie Floury, Paris (1933)
Renoir : un peintre de courage. Dr. Daniel Charles. In http://peintresetsante.blogspot.pt/search?q=Renoir+
Renoir, Pintor da Luz, da
Felicidade e da Harmonia. Autor: João Bugalho.
Renoir: “La douleur passe, la
beauté reste”. Auteur : Chloé Paternolli, Rédacteur.
História da Artrite do Artista / Pierre A. Renoir. In http://medicineisart.blogspot.pt/2010/06/historia-da-artrite-do-artista-pierre.html
Pierre Auguste Renoir. In http://www.artliste.com/pierre-auguste-renoir/
Jean Renoir Parle de son Père Auguste en Mai 1954. https://youtu.be/c8t1_JLfHWo
Pierre-Auguste Renoir. Avec son fils Claude et Sacha Guitry.
Publicado a 04/07/2013. In https://youtu.be/qHOeN7HXj3k
(Unique film connu sur Pierre-Auguste Renoir, extrait de
"Ceux de chez nous", de Frédéric Rossif (INA, 1975), réunissant les
muets de Sacha Guitry, dont celui-ci de 1915, plus un premier plan d'origine
inconnue. Sacha Guitry commente lui-même son travail. Renoir peint et bavarde,
en compagnie de son fils Claude, 14 ans et non Jean, comme le dit Guitry par
erreur, et de Sacha Guitry lui-même, qui entre dans le champ à mi-film. Deux
parties: original et relecture. Pardon pour les pixels)
© 202 productions / Maurice Darmon. Op. 58, 3 juin 2013
(9'12).
“Je vous présente le peintre Pierre Auguste Renoir”, par Robert Poulin. In: https://youtu.be/XMa9-u7-izU