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sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Devagar


Devagar amor. Deixa o fogo penetrar lentamente
o leito húmido e suave do meu ser.
Não distraias o olhar senão no meu corpo.
Não fales. Ou melhor, murmura-me ao ouvido
aquilo que eu já sei mas tanto gosto de ouvir.
Não percas as tuas mãos em gestos inúteis,
deixa-as atear o lume deste tempo sem limites.
Devagar amor. Poisa as pétalas dos teus lábios
nos meus olhos guardadores de todos os astros
e vem mais lentamente ainda abrigar-te,
repousar à sombra do meu cansaço de criança feliz.
Devagar amor. Não vás deixar apagar as brasas.
Não suporto cinzas nem palavras sem sentido,
nem gestos bolorentos, nem um até amanhã displicente
como se a noite tivesse acabado
ao romper breve da madrugada.
Deixa-te estar imerso na minha ilha
e vem descobrir a música do silêncio
que eu compus para ti
com a cumplicidade de milhões de violinos
escondidos nas estrelas.



Teresa Sampaio

"Lovers" by Yves Pires.France

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