Não está assim tão distante essa infame ‘Noite de Cristal’
(“Kristallnacht”).
Foi há oitenta anos, na noite de 9 para 10 de novembro de
1938. Os demónios foram soltos em vários locais da Alemanha e da Áustria: 267 sinagogas destruídas, 1919 incendiadas, 7500
lojas judaicas atacadas, 91 judeus perseguidos e espancados até à morte, nas ruas, cerca de 25 mil a 30 mil presos e metidos em
vagões de comboio rumo aos campos de concentração.
Tinha início a “solução final”.
Foram os muitos milhares de vidros partidos, espalhados pelo
chão, resultantes dessa noite de radical violência que estiveram na origem do
nome “Kristallnacht”. Ela assinala
inexoravelmente a agressão em massa aos judeus, mas também aos ciganos,
homossexuais e pessoas portadoras de deficiência. Alguns meses mais tarde, começava
a II Guerra Mundial , com a invasão da Polónia ordenada por Hitler ,em 1 de
setembro de 1939.
Hoje, um pouco por todo o lado, despertam de novo sinais
inquietantes de racismo, chauvinismo e, novamente, de antissemitismo. Alguns
aparecem sob a capa do populismo e do autoritarismo, tão bem vistos por
extensas camadas de população, que julgam descortinar nesses traços de caráter
a autêntica face dos líderes. Com o
apoio de que precisam para legitimar politicamente os seus nefandos atos, eles,
os “eleitos”, cavalgam a onda de
intolerância e de xenofobia, valendo-se da confiança que cegamente (ou não)lhes
foi dada. Rapidamente, o rastilho da violência se espalha. Acontece nos EUA, no
Brasil, na Polónia, na Hungria, na Áustria, em Itália, na Alemanha e em França,
onde só nos primeiros nove meses deste ano as ações antissemitas tiveram um
recrudescimento de 70%, segundo escreveu, hoje mesmo, o primeiro-ministro
francês, Edouard Philippe, na sua página do Facebook.
Foi assim que Hitler começou. O antissemitismo mais básico, violento e
irracional, o racismo brutal, o oportunismo político de braço dado com o populismo,
a xenofobia e o chauvinismo tornaram-se marcas
extremas e inequívocas do Terceiro Reich.
O resultado foi o extermínio de seis
milhões de judeus, num total de cinquenta milhões de mortos até ao final da II
Guerra Mundial, em 1945.
Mais do que nunca, hoje, é preciso que todos estejamos
unidos, vigilantes e determinados para que o monstro, em letargia, não possa levantar a
cabeça.
Maria Teresa Sampaio
9 de novembro de 2018.
Fonte dos números e imagens: “Memoshoá - Associação Memória e Ensino do Holocausto".