Marcelo prepara diligentemente a sua candidatura a um
segundo mandato.
Avalia passo a passo, abraço a abraço, beijinho a beijinho, o efeito do seu omnipotente esbanjamento de afetos. A nação, carente e suspirosa, caiu-lhe nos braços e deixa-se afagar, depois de longos anos de secura com um mumificado Cavaco.
Avalia passo a passo, abraço a abraço, beijinho a beijinho, o efeito do seu omnipotente esbanjamento de afetos. A nação, carente e suspirosa, caiu-lhe nos braços e deixa-se afagar, depois de longos anos de secura com um mumificado Cavaco.
Marcelo conhece os efeitos balsâmicos de um abraço aconchegante,
de palavras sussurradas ao ouvido, no momento certo, quando quem está esmagado
pela dor sente o consolo que vem, inusitadamente, do topo da hierarquia do
Estado.
Pode dizer-se que internacionalizou o abraço, numa fotografia que correu mundo e foi partilhada nas redes sociais da revista “Time”.
Pode dizer-se que internacionalizou o abraço, numa fotografia que correu mundo e foi partilhada nas redes sociais da revista “Time”.
Mas sabe também aproveitar todos os momentos, retirar de
cada oportunidade apenas sugerida, escassamente percebida pelos outros, o máximo
proveito para os seus desígnios. E como quase não dorme, sobra-lhe tempo para
as mais inesperadas elucubrações.
Enquanto António Costa negociava a ajuda europeia em Bruxelas, Marcelo prosseguia, incansável, o seu périplo de amplexos e enleios, passando ao mesmo tempo uma rasteira traiçoeira ao homem que zelosamente o tinha informado, atempadamente, sobre as medidas que haviam sido programadas e sobre a demissão, então em marcha, da ministra da Administração Interna. Mesmo assim, optou pela dissimulação, pelo simulacro, encenou o grande espetáculo dramático e, como se nada soubesse, do alto, do seu cargo de Chefe de Estado e de Comandante Supremo das Forças Armadas não resistiu a zurzir o Governo num tom severo e tonitruante como até então ninguém lhe tinha ouvido, que soou como música angelical à sua família política.
Veio, pois, exigir que se cumprisse o que antecipadamente sabia ia ser cumprido. Mas não se ficou por aí, foi mais longe, ameaçou com as consequências da moção de censura que a sempre diligente e virtuosa Cristas lhe colocava à disposição e que acabou por resultar num favor ao Governo.
Enquanto António Costa negociava a ajuda europeia em Bruxelas, Marcelo prosseguia, incansável, o seu périplo de amplexos e enleios, passando ao mesmo tempo uma rasteira traiçoeira ao homem que zelosamente o tinha informado, atempadamente, sobre as medidas que haviam sido programadas e sobre a demissão, então em marcha, da ministra da Administração Interna. Mesmo assim, optou pela dissimulação, pelo simulacro, encenou o grande espetáculo dramático e, como se nada soubesse, do alto, do seu cargo de Chefe de Estado e de Comandante Supremo das Forças Armadas não resistiu a zurzir o Governo num tom severo e tonitruante como até então ninguém lhe tinha ouvido, que soou como música angelical à sua família política.
Veio, pois, exigir que se cumprisse o que antecipadamente sabia ia ser cumprido. Mas não se ficou por aí, foi mais longe, ameaçou com as consequências da moção de censura que a sempre diligente e virtuosa Cristas lhe colocava à disposição e que acabou por resultar num favor ao Governo.
Houve jornalistas que souberam, pouco antes do discurso do
Presidente, que a ministra ia ser demitida, mas preferiram não divulgar.
Estavam distraídos com outros sinais de fumo… Apenas Daniel Oliveira deu conta
desse facto publicamente e quando o fez no programa “Eixo do Mal” do passado
dia 21, foi logo fustigado pelos presentes. Só no dia 26 o “Público” fez manchete
do assunto, seguido do DN.
Marcelo respira política por todos os poros, da pontinha dos
cabelos às unhas dos pés. Provavelmente desde o berço!
Já assim era na Faculdade de Direito de Lisboa. Quando numa greve geral ― antes do 25 de abril de 1974 ― os campos se extremaram a tal ponto, entre estudantes de direita e de esquerda, que os confrontos físicos, ultrapassaram as barricadas, o sangue correu e a polícia de choque, como de costume, fez a sua brutal aparição, Marcelo Rebelo de Sousa, afilhado de Marcelo Caetano, filho de um ministro de Salazar, não furou a greve como alguns, seus escassos colegas do 5.º ano fizeram. Estou a lembrar-me de Braga de Macedo que, apesar de agredido rompeu os piquetes de greve, em coerência com as suas ideias de direita.
Já assim era na Faculdade de Direito de Lisboa. Quando numa greve geral ― antes do 25 de abril de 1974 ― os campos se extremaram a tal ponto, entre estudantes de direita e de esquerda, que os confrontos físicos, ultrapassaram as barricadas, o sangue correu e a polícia de choque, como de costume, fez a sua brutal aparição, Marcelo Rebelo de Sousa, afilhado de Marcelo Caetano, filho de um ministro de Salazar, não furou a greve como alguns, seus escassos colegas do 5.º ano fizeram. Estou a lembrar-me de Braga de Macedo que, apesar de agredido rompeu os piquetes de greve, em coerência com as suas ideias de direita.
E o jovem Marcelo era de esquerda? Claro que não.
Fez greve? Também não.
Então? Foi fura-greves? Nãããão, destoar-lhe-ia no currículo.
Recordo-me de o ver do lado de cá da barricada, ou seja, onde nós estávamos, os estudantes de esquerda. Trocava palavras amistosas, observações casuísticas, com quem lhe desse troco, num tom afável, como se não fosse nada com ele. Parecia um observador investido superiormente por uma entidade desconhecida dos demais..
Fez greve? Também não.
Então? Foi fura-greves? Nãããão, destoar-lhe-ia no currículo.
Recordo-me de o ver do lado de cá da barricada, ou seja, onde nós estávamos, os estudantes de esquerda. Trocava palavras amistosas, observações casuísticas, com quem lhe desse troco, num tom afável, como se não fosse nada com ele. Parecia um observador investido superiormente por uma entidade desconhecida dos demais..
Quem diria? Aquele que viria a ser o futuro Presidente da República de Portugal dava os primeiros passos na coabitação política, preparava já o seu caminho, com a inteligência e a habilidade que todos lhe reconhecem, a frieza, o calculismo e a premeditação que poucos ainda lhe atribuem.
Os últimos acontecimentos, particularmente o mais recente
episódio com António Costa, remetem-me para a fábula do escorpião e da rã. Tal
como o escorpião, Marcelo não pode evitar a sua própria natureza.
…
Maria Teresa Sampaio
27 de Outubro de 2017
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