O ANO MEMORÁVEL, LOUCO, INSUBMISSO, IRREPRIMÍVEL, MÍTICO DE 1968
Havia uma atmosfera de estranha
realidade, que se caracterizava pela afirmação da individualidade e,
simultaneamente, pela consciência da força da rebelião de massas. Tudo era
possível. Até o impossível. Ou melhor, não havia impossível. O sonho comandava
tudo e a liberdade estava ali, ao alcance de um megafone ou de mãos que se
davam sem medo. Sem fronteiras, nem muros. A guerra no Vietname congregava
todas as revoltas. Repudiava-se o capitalismo instalado mas também o marxismo
ortodoxo do Leste europeu. Uma completa inversão de valores, contrários ao
status quo vigente, movia multidões de jovens aguerridos, que por todo o lado,
dos Estados Unidos à França, alastrava pelo mundo, com palavras de ordem
criativas, como: "É proibido proibir."; "Corram camaradas, o
velho mundo está atrás de vocês." “O agressor não é aquele que se revolta,
mas aquele que reprime.”
Estudantes, operários e
intelectuais uniam-se, pensavam alto em conjunto, lutavam contra as forças
policiais com pedras. As greves ameaçavam a ordem instalada.
Nos Estados Unidos Martin Luther
King foi assassinado a 4 de abril de 1968, em Menphis. O racismo e o ódio
enraizados na sociedade norte-americana de então não o deixaram viver mais do
que 39 anos. Lutador pacífico, incansável e corajoso pelos direitos civis, contra o segregacionismo, já tinha sido alvo
de outros dois atentados. Doutor em Teologia e Pastor da Igreja Batista,
empenhou a sua vida numa luta pela igualdade de direitos para negros e brancos
no seu país, arrastando centenas de milhares de pessoas nas marchas que
encabeçou, sempre de forma pacífica. Em 1984 foi-lhe atribuído o Prémio Nobel
da Paz. Quatro anos depois, a sua voz calou-se para sempre, quando foi baleado. A sua
morte provocou revoltas por todo o país, que provocaram mais de 40 mortos,
3.500 feridos e 27.000 presos. Dois meses depois, a 5 de junho de 1968, o
senador Robert Kenedy, (irmão do presidente Kenedy, assassinado em 1963),
foi morto a tiro, durante a sua campanha para as presidenciais.
A juventude unia-se num movimento
em uníssono, que foi o ponto de partida das grandes alterações sociais, éticas,
políticas e sexuais que marcariam aquele ano de brasa e todos os que se
seguiram. A defesa das minorias, dos direitos humanos, da igualdade de géneros,
o início dos movimentos ecologistas e a formação das Organizações não
Governamentais (ONG) viram a luz do dia e sedimentaram-se mais tarde.
Quem viveu esse ano mágico, mesmo
que, depois se tenha desiludido, nunca mais o esqueceu. A imaginação tinha
chegado, por momentos, ao poder.
Maria Teresa Sampaio
Martin Luther King
Robert Kenedy
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