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sábado, 26 de julho de 2014

O genocídio dos Palestinianos

A soberba do homem o abaterá, mas o humilde de espírito obterá honra.
Provérbios 29.23
O mal é doce no começo, mas amargo no fim.
 Talmude babilónico

Aos poucos, Israel, com a cobertura total dos EUA e de outros países, alguns dos quais europeus, vai riscando  a Palestina do mapa.
.
No séc. XIX, com a fundação do movimento sionista, os judeus começaram a emigrar para a Palestina, onde compraram terras, quer ao Império Otomano, quer às comunidades árabes. Fizeram, então, circular o slogan famoso: "a Palestina é uma terra sem povo para um povo sem terra". Desde a criação do Estado de Israel, que os israelitas avançam, a ferro e fogo, sobre terras da Palestina, hoje reduzida à Faixa de Gaza.
A ONU é inoperante. Os países árabes, também, pouco ou nada apoiam a Palestina. Israel continua arrogantemente a não cumprir nenhuma resolução das Nações Unidas. Tem as costas bem quentes pelos EUA.

Este povo morre lentamente, há décadas. O mundo, com algumas exceções, assiste impávido ao seu genocídio perpetrado por Israel.
O solo fica coberto de "danos colaterais", que perfazem milhares. Israel não faz distinção entre homens, mulheres e crianças. Todos são palestinianos e isso lhes basta para serem condenados à extinção absoluta.

Disse o rabino Moisés Hayim Luzzato que "O instinto do mal é extremamente forte no homem; se não é combatido cresce sempre mais e apodera-se dele dominando-o." Tem razão, mas parece que pregou aos peixes. O instinto do mal apoderou-se dos judeus, que já esqueceram o quanto sofreram, como vítimas do Holocausto. Agora, são eles que erguem muros, avançam triunfantemente sobre o solo palestiniano e matam crianças e velhos indefesos, indiscriminadamente. Têm as mãos manchadas de sangue e os olhos turvados pela ganância. Podem rolar pelo chão palestiniano as cabeças de mulheres, homens e jovens. Pouco importa. O seu destino é morrer às mãos dos judeus, sem piedade. Alegam que os palestinianos ripostam com pedras, rockets e alguns mísseis. E então? Não têm também o direito à defesa. E, no entanto não têm Exército, nem Força Aérea, nem Marinha. Por acaso já repararam na desproporção de meios e, consequentemente, de mortos?











O que vemos são palestinianos: pais com os filhos mortos nos braços e mães, desesperadas, a chorar e a gritar com os braços erguidos para o céu.

O que vemos são centenas de famílias que fogem da sua terra, porque as suas casas foram destruídas, ficaram sem nada e perderam os seus familiares, mortos por Israel.

O que vemos é a agonia infindável de um povo, que Israel quer banir da face da terra.

O que vemos é o horror e o medo refletido nos olhos das crianças palestinianas, perante as explosões e os corpos espalhados pelo chão da sua terra.

O que vemos é o reino do terror e da morte, sem tréguas, que Israel instaurou impunemente. a ser consumado.

A Palestina vai-se extinguindo, como uma vela que se apaga. O genocídio está  a ser consumado. Metodicamente. O mundo olha sem ver.

"Com a medida com que medires serás medido."
Talmude babilónico

mts







quarta-feira, 23 de julho de 2014

PALESTINA

Ainda que hoje as balas e os mísseis
sibilem sobre a terra palestiniana,
e deixem atrás de si um rasto
de sangue e de morte;
Ainda que, hoje, o povo palestiniano
seja obrigado a abandonar a sua terra 
e a viver na miséria;
Ainda que Israel possa cometer crimes de guerra
contra a Humanidade, no genocídio
do povo palestiniano;
O clamor pela paz,
um dia, tornar-se-á mais forte
que os interesses de Israel
e dos países que o sustentam,
e a Palestina será um País 
livre de pleno  direito.


mts





domingo, 20 de julho de 2014

Diário da minha mãe

20 de julho de 2014

Antes que o mar venha apagar as minhas memórias recentes na arreia da praia, deixo gravadas as sensações derradeiras que guardo de ti, mãe. Para memória futura. Para que todos os que importam saibam. Cada semana que passa sinto que te vais desligando. Desinteressas-te pelo que se passa à tua volta ou respondes-me que não sabes, como se não tivesse importância, quando te pergunto (para confirmar) onde está o teu cartão de cidadão. 

O teu coração bate cada vez mais de vagar. Olhas-me com toda a imensa tristeza que existe num olhar de partida.
Hoje quando te abracei, correspondeste ao meu abraço e disseste-me, baixinho, “minha querida filha”. Saboreei o momento com tanta intensidade, como se fosse único. E era mesmo. Nunca me habituaste a estes mimos.E agora, mãezinha, choro como se fosse chuva que cai e tudo molha.

Apagas-te aos poucos, como a chama ténue de uma vela e eu não posso fazer nada para o impedir. Beijo-te o rosto e as mãos, e é tão pouco.

Em mim também uma coisa coisa muito importante se vai desvanecendo.

Eu peço ao Pai que te proteja, ajude, ilumine, não te deixe sofrer e te dê muita paz. Tanta como eu preciso também.

mts



sexta-feira, 11 de julho de 2014

Há momentos...

Há momentos na minha vida, diferentes de tudo, sem igual, em que, de súbito, sou outra em mim, e me apetece agradecer, pela vida que se salvou, pelo Pedro e pela Catarina e pelo esplendor único que é a Adriana, pelos pais que me foram destinados, pelos entes queridos que perdi, pelo sol e pela lua, pelo mar e pelas montanhas, pelos rios que correm em mim, por uma pequena flor, um sorriso ou um beijo.

Há momentos em que venço a dor, ou a tristeza, ou a deceção, em que, perante uma encruzilhada, sei escolher o caminho certo e então apetece-me agradecer.

Há momentos que transcendem todo o sofrimento, em que sou criança e intervalo de esperança.
Há momentos em que aceito tudo o que passou, o que é e o que será.

Há momentos em que agradeço a dádiva da vida.

mts

Madison Estudio

terça-feira, 8 de julho de 2014

MENINA

Deixo-me encantar pela imagem desta menina, tão sedutora e feminina, no reclinar da cabeça para o lado, as mãozinhas juntas, como que rezando ou suplicando, a boca fechada num meio sorriso vincado, indicando um início de forte personalidade, os olhos grandes que timidamente olham para baixo, para além de nós.
Apetece envolvê-la num abraço protetor e maternal.

mts

Photo by Michael Jolliffe

CORPOS

O meu corpo é o abismo entre eu e eu. 

Se tudo é um sonho sob o sonho aberto 
Do céu irreal, sonhar-te é possuir-te, 
E possuir-te é sonhar-te de mais perto

As almas sempre separadas,
Os corpos são o sonho de uma ponte
Sobre um abismo que nem margens tem

Eu porque me conheço, me separo
De mim, e penso, e o pensamento é avaro
A hora passa. Mas meu sonho é meu.

[1913]

Fernando Pessoa


Photo via ART Pixx Elle

domingo, 6 de julho de 2014

"SOU AUTISTA"

"Josef Schovanec nasceu em agosto de 1981, em Paris, e é autista. Aos 19 anos, depois de experimentar vários medicamentos, foi-lhe feito o diagnóstico que o impediu de ser internado e que lhe permitiu aprender a viver com a síndrome de Asperger. Depois de se licenciar na Sciences Po Paris, continuou os estudos em línguas. Dá conferências no mundo inteiro e trabalha como investigador na universidade de Bucareste."

Para quem já se encontrou nos caminhos da vida com pessoas com a síndrome de Asperger, este livro escrito pelo próprio, ajuda-nos a compreender melhor esses seres únicos, tantas vezes marginalizados, vítimas de gracejos estúpidos, de agressões físicas e psicológicas. A viagem que fazemos com eles, não é isenta de dor, angústia, perplexidades e inúmeras interrogações. Por vezes o céu parece pesar sobre eles e sobre nós. Por vezes hesitamos, sem saber qual a melhor maneira de os compreender e ajudar. E, no entanto, eles vivem ao nosso lado, mesmo que longe e amamo-los, mesmo que eles não saibam exprimir, como nós, as suas emoções. Somos como caminhantes no deserto.

Escreve o editor do ipressjournal  sobre  o autor desta obra: “Viajante apaixonado pelas civilizações antigas, conferencista e investigador universitário, Josef Schovanec domina uma dezena de línguas e possui um doutoramento em filosofia e, no entanto, foi por pouco que, sem diagnóstico estabelecido, conseguiu evitar o internamento psiquiátrico.”
“Josef recusa os atributos que lhe dão: os de um autista «genial», com capacidades intelectuais extraordinárias. Em vez disso, evoca, com humor e sensibilidade, os «pequenos» problemas que constituem o dia-a-dia de um autista Asperger. Desde as longas preparações necessárias para apanhar o metro ou comparecer a um encontro até à angústia que o invade quando o telefone começa a tocar, passando pelo pânico perante o menor imprevisto, a obsessão por bibliotecas e livros e também a dificuldade em compreender os códigos sociais ou em estabelecer relações de amizade clássicas. O extraordinário testemunho de um génio à parte.”

Este livro é, por tudo isso, uma revelação.

Josef Schovanec, “Sou Autista”, Oficina do Livro, Maio de 2014.


quarta-feira, 2 de julho de 2014

Sophia no Panteão. Finalmente.

Por tudo quanto disseste, sentiste, amaste e escreveste, na luz deste país meridional, nos anos acorrentados, em que ousaste manifestar o teu desdém e a tua revolta; pelo 25 de Abril de 1974, que tu cantaste, como ninguém mais o fez, em cinco versos apenas, com uma simplicidade única, que tem a marca do teu génio; pela tua vida íntegra, corajosa e apaixonada, SOPHIA, há muito que merecias a homenagem, que só dez anos depois  te prestaram..
Esta foi, de outra forma, "a madrugada que eu esperava" e tu, Poeta  maior de todos os nossos tempos, passados e atuais, tu és "Puro espírito do êxtase e do vento", que, "Na clara paisagem essencial e pobre", viveste sempre "segundo a lei da liberdade, /Segundo a lei da exacta  eternidade." (In No Tempo Dividido)

Por todos nós tu pranteaste como ninguém os dias da mais violenta insídia:

PRANTO PELO DIA DE HOJE

Nunca choraremos bastante quando vemos
O gesto criador ser impedido
Nunca choraremos bastante quando vemos
Que quem ousa lutar é destruído
Por troças por insídias por venenos
E por outras maneiras que sabemos
Tão sábias tão subtis e tão peritas
Que nem podem sequer ser bem descritas

                                                                                    In Livro VI - III - As Grades

ESTA GENTE

Esta gente cujo rosto
Às vezes luminoso
E outras vezes tosco
Ora me lembra escravos
Ora me lembra reis
Faz renascer meu gosto
De luta e de combate
Contra o abutre e a cobra
O porco e o milhafre
Pois a gente que tem
O rosto desenhado
Por paciência e fome
É a gente em quem
Um país ocupado
Escreve o seu nome
E em frente desta gente
Ignorada e pisada
Como a pedra do chão
E mais do que a pedra
Humilhada e calcada
Meus canto se renova
E recomeço a busca
Dum país liberto
Duma vida limpa
E dum tempo justo.

In Geografia




25 DE ABRIL
Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo
 

In O Nome das Coisas


Dois dias apenas, depois do 25 de Abril, tu escreveste, com a voz de um povo:


REVOLUÇÃO
Como casa limpa
Como chão varrido
Como porta aberta
Como puro início
Como tempo novo
Sem mancha nem vício
Como a voz do mar
Interior de um povo
Como a voz do mar
Interior de um povo
Como página em branco
Onde o poema emerge
Como arquitectura
Do homem que ergue
Sua habitação.

27 - 4 - 1974

In O Nome das Coisas


Tu disseste aquilo que muitos gostariam de ter sabido dizer e não souberam:

Eu nunca pedi nada porque era 
Completa a minha esperança.*


Só tu soletraste o amor de forma tão pura e cristalina:


PRECE

Que nenhuma estrela queime o teu perfil 
Que nenhum deus se lembre do teu nome 
Que nem o vento passe onde tu passas. 

Para ti eu criarei um dia puro 
Livre como o vento e repetido 
Como o florir das ondas ordenadas. 

In No Tempo Dividido


A PAIXÃO NUA


A paixão nua e cega dos estios 
Atravessou a minha vida como rios 


In O Nome das Coisas


EU BUSCO O RASTRO DE ALGUÉM

Eu busco o rastro de alguém
Que o mar reflecte e contém.

Calma que eterniza as suas horas,
Ou tumulto que vibra
Nas marés desesperadas e sonoras.

Eu busco o rastro de alguém
Que ao meu encontro vem
No sonho de cada linha.
Alguém
Que no silêncio dos pinhais caminha,
Rio correndo, chama
Em tudo acesa.
Alguém que me devasta e inflama
Me destrói e me inunda de certeza.

Alguém que me devora,
Ou infinitamente longe me implora
Que venha.
Alguém que se desenha
No perfil dos montes
E sobe do fundo da terra com as fontes.

In Poesia I



Tu cantaste um tempo, que, infelizmente, hoje se repete:


ESTE É O TEMPO

Este é o tempo
Da selva mais obscura

Até o ar azul se tornou grades
E a luz do sol se tornou impura

Esta é a noite
Densa de chacais
Pesada de amargura

Este é o tempo em que os homens renunciam

In Mar Novo



Tu moras no centro da nossa singularidade e formulas, como mais ninguém, a nossa ânsia do divino:


COMO O RUMOR

Como o rumor do mar dentro de um búzio
O divino sussurra no universoAlgo emerge: primordial projecto

In O Nome das Coisas




AS IMAGENS TRANSBORDAM
As imagens transbordam fugitivas
E estamos nus em frente às coisas vivas.Que presença jamais pode cumprirO impulso que há em nós, interminável,De tudo ser e em cada flor florir?

In Dia do Mar


E tudo se conjuga para que, tal como disseste:


UM DIA

Um dia, mortos, gastos, voltaremos
A viver livres como os animais
E mesmo tão cansados floriremos
Irmãos vivos do mar e dos pinhais.

O vento levará os mil cansaços
Dos gestos agitados irreais
E há-de voltar aos nossos membros lassos
A leve rapidez dos animais.

Só então poderemos caminhar
Através do mistério que se embala
No verde dos pinhais na voz do mar
E em nós germinará a sua fala.


In Dia do Mar

Quando escreveste este poema, Sophia, tu não sabias que, tantos anos depois, ainda hoje, a Pátria tem o sabor amargo do exílio:


PÁTRIA

Por um país de pedra e vento duro 
Por um país de luz perfeita e clara 
Pelo negro da terra e pelo branco do muro 

Pelos rostos de silêncio e de paciência 
Que a miséria longamente desenhou 
Rente aos ossos com toda a exactidão 
Dum longo relatório irrecusável 

E pelos rostos iguais ao sol e ao vento 

E pela limpidez das tão amadas 
Palavras sempre ditas com paixão 
Pela cor e pelo peso das palavras 
Pelo concreto silêncio limpo das palavras 
Donde se erguem as coisas nomeadas 
Pela nudez das palavras deslumbradas 

- Pedra  rio  vento  casa 
Pranto  dia  canto  alento 
Espaço  raiz  e água 
O minha pátria e meu centro 

Me dói a lua me soluça o mar 
E o exílio se inscreve em pleno tempo 

In Livro VI - III - As Grades


Afinal, Sophia, no mais fundo de nós, desejamos:


A PAZ SEM VENCEDOR NEM VENCIDOS

Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos
A paz sem vencedor e sem vencidos
Que o tempo que nos deste seja um novo
Recomeço de esperança e de justiça.
Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos

A paz sem vencedor e sem vencidos
Erguei o nosso ser à transparência
Para podermos ler melhor a vida
Para entendermos vosso mandamento
Para que venha a nós o vosso reino
Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos

A paz sem vencedor e sem vencidos
Fazei Senhor que a paz seja de todos
Dai-nos a paz que nasce da verdade
Dai-nos a paz que nasce da justiça
Dai-nos a paz chamada liberdade
Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos

A paz sem vencedor e sem vencidos

In Dual


Passou uma década, desde que nos deixaste, Sophia, e, contudo, prosseguimos a incansável busca de um "país liberto / Duma vida limpa / E dum tempo justo."


ESTA GENTE

Esta gente cujo rosto
Às vezes luminoso
E outras vezes tosco
Ora me lembra escravos
Ora me lembra reis
Faz renascer meu gosto
De luta e de combate
Contra o abutre e a cobra
O porco e o milhafre
Pois a gente que tem
O rosto desenhado
Por paciência e fome
É a gente em quem
Um país ocupado
Escreve o seu nome
E em frente desta gente
Ignorada e pisada
Como a pedra do chão
E mais do que a pedra
Humilhada e calcada
Meus canto se renova
E recomeço a busca
Dum país liberto
Duma vida limpa
E dum tempo justo.

In Geografia


mts