Povoa-nos, alegria. Habita em nós como um barco ilumina o
oceano,
como um cavalo na intensidade da planície deserta
levanta os seus olhos até ás Hastes do plátano
incandescente.
Constrói em nós a arquitetura das cidades do sul, o
labirinto,
o oculto, a fome, a sede, a rapidez do nome, o seu
despojamento
eterno, a água dos litorais, o Outono, a passagem das
aves.
Povoa-nos, alegria imensa de alegria sem adorno, apenas
alegria sem deuses, nem a passagem, o sacrifício, as
leis, os rios
do exílio, o êxodo, a sombra das cabanas, o sangue, a
terra, o rosto
frio, os atros perdidos, os lábios secos, o coração do
deserto.
Povoa-nos como a uma pátria de exilados, como a um corpo
sem vestes
nem fragmentos, colheitas, transpiração, ardor, uníssono.
Habita em nós, alegria da vastidão, começa em nós onde o
tempo
Sobrevive. Povoa-nos, alegria, envolve-nos sofregamente,
veloz.
Francisco José Viegas
In Metade da Vida, Quasi, Abril, 2002.
Pablo Picasso
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