Eis-me
no centro do assombro,
onde não há distinção nenhuma
entre ser queimado e ser fogo.
onde não há distinção nenhuma
entre ser queimado e ser fogo.
No
centro do assombro,
mordido pelas chamas
e a mordê-las.
mordido pelas chamas
e a mordê-las.
Carlos
de Oliveira
In Descida aos Infernos
Tantas vezes me lembro deste
poema, quantas as pessoas e circunstâncias que me alarmam de espanto e me ferem. Como
quando se estilhaça em mil vidrinhos o caleidoscópio dos sentimentos. Nenhuma
afirmação se adequa melhor do que esta de Carlos de Oliveira, quando
deambulamos, perdidos, “no centro do assombro”
e nos deparamos com a extrema incomodidade do espanto de existir. Entre
o que mordemos e o que nos morde, não há grande diferença. Entre o fogo que nos
consome e aquele que ateamos o sinal de união é o mesmo que nos separa.
Os muros que outros erguem são
também aqueles que deitamos abaixo para conquistar a liberdade.
Porque de tanto se viver, de
tanto de sonhar, ou de tanto imaginar, o ponto de partida acaba por se
confundir com o ponto de chegada, no extremo da assombração.
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