Publicação em destaque

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Assombro

Eis-me no centro do assombro,
onde não há distinção nenhuma
entre ser queimado e ser fogo.
No centro do assombro,
mordido pelas chamas
e a mordê-las.

Carlos de Oliveira
In Descida aos Infernos


Tantas vezes me lembro deste poema, quantas as pessoas e circunstâncias que me alarmam de espanto e me ferem. Como quando se estilhaça em mil vidrinhos o caleidoscópio dos sentimentos. Nenhuma afirmação se adequa melhor do que esta de Carlos de Oliveira, quando deambulamos, perdidos, “no centro do assombro”  e nos deparamos com a extrema incomodidade do espanto de existir. Entre o que mordemos e o que nos morde, não há grande diferença. Entre o fogo que nos consome e aquele que ateamos o sinal de união é o mesmo que nos separa.
Os muros que outros erguem são também aqueles que deitamos abaixo para conquistar a liberdade.

Porque de tanto se viver, de tanto de sonhar, ou de tanto imaginar, o ponto de partida acaba por se confundir com o ponto de chegada, no extremo da assombração.



Sem comentários: