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sábado, 2 de agosto de 2014

Dias negros

Há dias de tanta angústia
Que não sei do que ela é.
Não sei se me sobra o sonho.
Não sei se me falta a Fé.
Fernando Pessoa

Estes têm sido dias como esses de que Fernando Pessoa escreveu com tanta alma e génio.

Ouvir, ler e ver, logo pela manhã o horror que se passa em Gaza; ver homens palestinianos correndo, por entre os destroços daquele pedaço martirizado de terra, com os filhos mortos nos braços; sentir a dor das mulheres, mães e avós que pranteiam, de olhos postos no céu; ver aquele povo à procura das casas que as bombas israelitas já destruíram e, em seu lugar, encontrar pedras; verificar que o vírus Ébola vai alastrando e ceifando os desafortunados, em África; saber e sentir na pele que, em Portugal, continuam a ser os mais desprivilegiados a pagar a crise e ter a certeza que os grandes gatunos e biltres - os donos de Portugal - vão escapando nas malhas de um Estado corrupto e nepotista, que não só os protege como também os recompensa e galardoa; tudo isto e muito mais cria em mim uma angústia, um nojo e uma vergonha, que quase conseguem envenenar-me os dias e torná-los negros como uma noite sem luar nem estrelas.

Hoje, não consigo sentir alegria. Quase me sentiria culpada.
Há dias assim, em que todo o pranto não chega para chorar tanto mal e a própria esperança parece envenenada. 

mts



 



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