Dois meses antes da morte, Van Gogh terminou a obra “No
limiar da Eternidade”, nela expressando a angústia que o assoberbava e a luta
de contrários em que se digladiava, até ao suicídio. Como tinha sido estudioso
da Bíblia e pregador, transmitiu em toda a sua obra e especialmente neste
trabalho a simbologia religiosa da sua atormentada vida. Naturalmente, que se
pode observar apenas o que é visível diretamente ao olhar. Contudo, a
simbologia está lá, impõe-se e é determinante para a leitura ou explicação do
quadro.
Este trabalho, terminado em maio de1890, num asilo em
Saint-Rémy de Provence, onde o artista convalescia de uma severa recaída da sua
saúde, é, talvez, o mais simbólico e espiritual do conjunto da sua obra. Teve
como ponto de partida uma litografia, e por base desenhos a lápis, estudos, que
— sabemos hoje, através de uma carta que o pintor escreveu ao irmão e único
amigo, Theo — tiveram como inspiração um pensionista, veterano de guerra.
Van Gogh traçou, então, um velho, calvo, vestindo um fato inteiro de trabalhador, em bombazina azul, com os cotovelos cravados nas pernas e as mãos, enegrecidas pelo trabalho, enclavinhadas, ocultando completamente o rosto. Quando escreveu ao irmão, disse-lhe: «penso que um pintor tem o dever de tentar transmitir as ideias no seu trabalho». E acrescentou que isso está para além de toda a teologia.
Van Gogh traçou, então, um velho, calvo, vestindo um fato inteiro de trabalhador, em bombazina azul, com os cotovelos cravados nas pernas e as mãos, enegrecidas pelo trabalho, enclavinhadas, ocultando completamente o rosto. Quando escreveu ao irmão, disse-lhe: «penso que um pintor tem o dever de tentar transmitir as ideias no seu trabalho». E acrescentou que isso está para além de toda a teologia.
Van Gogh acreditava que a existência de Deus e a eternidade
deviam transparecer na pintura daquele idoso, porque os mais pobres lenhadores,
agricultores ou mineiros podiam ter, conforme escreveu, momentos em que se sentissem
perto do “lar eterno”.
O artista tinha experimentado a miséria dos mineiros quando fora missionário numa região de minas de carvão belga, tendo decidido passar radicalmente pelas mesmas dificuldades e dormir na palha de uma cabana. Aspirava a ser um artista ao serviço de Deus. Por isso não é estranho, que a própria depressão e estados mentais extremos, para além das crenças religiosas, influenciassem de forma explícita a sua obra.
O artista tinha experimentado a miséria dos mineiros quando fora missionário numa região de minas de carvão belga, tendo decidido passar radicalmente pelas mesmas dificuldades e dormir na palha de uma cabana. Aspirava a ser um artista ao serviço de Deus. Por isso não é estranho, que a própria depressão e estados mentais extremos, para além das crenças religiosas, influenciassem de forma explícita a sua obra.
Em “No Limiar da Eternidade” os símbolos religiosos estão
presentes no todo. A coloração azul, sugerindo a depressão e a angústia, mas
também a sabedoria, predomina no quadro. Dela se veste o ancião, que é a figura
central da obra. A seus pés, a lareira, em que os toros de madeira simbolizam,
tal como as tábuas do chão e a cadeira, o sacrifício de Cristo na cruz. O fogo
é a purificação e a possibilidade de
ascensão até ao absoluto.
As mãos, enegrecidas pelo trabalho pesado, bem como a
posição do corpo, ligeiramente inclinado, revelam uma postura que não é só
desespero mas também humildade. A cabeça, onde rareiam os cabelos, exprime a
solidão da velhice e a proximidade da morte, que não é, contudo, o fim.
Bastaria observar a pintura nestes termos, se não fosse a expressão em inglês
com que o próprio autor titulou o seu trabalho: “At Eternity's Gate”.
É o título que muda radicalmente o sentido da obra. Já não basta, então, ver um pobre velho desesperado, atravessando um momento de dor e profunda tristeza.
A própria vida aparece como uma hipótese de redenção, que se cumpre na eternidade.
É o título que muda radicalmente o sentido da obra. Já não basta, então, ver um pobre velho desesperado, atravessando um momento de dor e profunda tristeza.
A própria vida aparece como uma hipótese de redenção, que se cumpre na eternidade.
29 de setembro de 2015
mts
“At Eternity's Gate”
Sem comentários:
Enviar um comentário