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quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

"Fraqueza e pequenez" na Casa Fernando Pessoa

As notícias das irregularidades perpetradas na Casa Fernando Pessoa, prosseguem, agora no Correio da Manhã.
Era bom que a verdade fosse apurada e que os responsáveis fossem exemplarmente punidos, a todos os níveis, incluindo o institucional.
Quem se mancomuna com amigos para os favorecer, e se promover ilegitimamente, à conta do erário público e do nome maior de Fernando Pessoa, quem for cúmplice também, devia, num país justo e não corrupto, demitir-se do seu cargo, ou, se não tiver um pingo de pudor nem a coragem de tomar essa louvável iniciativa, haja alguém, hierarquicamente superior, isento e impoluto, que, imediatamente, exonere do cargo os responsáveis.

Gente de bem agiria com virtude e isenção. Sem mais delongas.
Que a Casa Fernando Pessoa seja bem limpa e varrida de gente espúria!
Aqueles que lá trabalham e que formam uma equipa unida, leal, dedicada e trabalhadora como poucas, não merecem ser dirigidos, nem a nível intermédio nem superior, nem ao mais institucional, por quem traiu Fernando Pessoa e os tem estado a trair há muito tempo. 

Fernando Pessoa, (através de Álvaro de Campos) que esteve sempre à frente do seu tempo e até do atual, disse neste excerto da "Passagem das Horas":

Estatelo-me ao comprido em toda a vida
E urro em mim a minha ferocidade de viver...
Não há gestos de prazer pelo mundo que valham
A alegria estupenda de quem não tem outro modo de a exprimir
Que rolar-se pelo chão entre ervas e malmequeres
E misturar-se com terra até sujar o fato e o cabelo...
Não há versos que possam dar isto...
Arranquem um (...) de erva, trinquem-na e perceber-me-ão,
Perceberão completamente o que eu incompletamente exprimo.
Tenho a fúria de ser raiz
A perseguir-me as sensações por dentro como uma seiva...
Queria ter todos os sentidos, incluindo a inteligência,
A imaginação e a inibição
À flor da pele para me poder rolar pela terra rugosa
Mais de dentro, sentindo mais rugosidade e irregularidades.
Eu só estaria contente se o meu corpo fosse a minha alma...
Assim todos os ventos, todos os sóis, e todas as chuvas
Seriam sentidos por mim do único modo que eu quereria...
Não podendo acontecer-me isto, desespero, raivo,
Tenho vontade de poder arrancar à dentada o meu fato
E depois ter pesadas garras de leão para me despedaçar
Até o sangue correr, correr, correr, correr...
Sofro porque tudo isto é absurdo
Como se me tivesse medo alguém,
Com o meu sentimento agressivo para o destino, para Deus,
Que nasce de encararmos com o Inefável
E medirmos bem, de repente, a nossa fraqueza e pequenez.[...]

O que aconteceu foi que atravessaram várias vezes o Atlântico,  percorreram caminhos lamacentos e estatelaram-se ao comprido na vida, mas faltou-lhes a grandeza do Mestre. 
Não souberam medir  a sua "fraqueza e pequenez."!

mts





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