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quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

A lucidez de Fernando Pessoa

(Ainda a propósito das irregularidades que se passam na sua Casa)

"A nossa ruína cultural, a nossa não lusitanidade íntima, esse é o mal que nos mina; todos os outros, por graves que sejam, podem passar, podem ter solução. Mas para aquilo que, continuado, é a morte mesma, não há solução.
Do esforço instintivo da sociedade portuguesa, da operação obscura das leis desconhecidas, pelas quais as sociedades se regem, e que são o comentário frequentemente irónico à vontade inútil dos homens, ao esforço estéril das vontades individuais e conscientes, não podemos esperar nada, embora o possamos esperar. É que não podemos ter confiança no que desconhecemos, nem trabalhar em prol ou contra o que é inevitável e seguro.
Do estado nada podemos esperar também, mas, aqui, por uma outra razão. O estado não é português, o estado não é decente, o estado está, desde 1820, na posse de homens cuja obra é a essência da traição e da falência. Procurar o auxílio do estado é tão absurdo como procurar influenciar os homens que o possuem. Não há neles uma centelha de boa vontade patriótica, nem de lucidez portuguesa. Vivem daquilo, e nem vivem daquilo elegantemente." (...)

Fernando Pessoa in "Sobre Portugal - Introdução ao Problema Nacional."



Caricatura por David Levin 1972

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