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quarta-feira, 7 de agosto de 2013

O peso de um olhar

Na expressão triste, desta menina descobre-se uma história de séculos de escravatura, de sangue e de ausência de quaisquer direitos.
Uma história que mancha a consciência dos brancos e que ainda hoje se perpetua em muitos sítios. Mas, o poder deste olhar é também o de nos acordar para os massacres tribais, para histórias esquecidas dos “diamantes de sangue” que enriquecem comerciantes de luxo na Europa e nos Estados Unidos e um pouco por todo o mundo rico. Em Lunda, no norte de Angola ainda acontece rasgar-se o ventre de homens para lhes extorquir os diamantes que alegadamente terão engolido. A miséria humana não conhece limites.
A fome e a justa ânsia de uma vida melhor numa Europa, que, apesar da crise ainda parece apelativa, leva milhares de africanos, homens, mulheres e crianças a atravessar o mar em barcaças, em condições inumanas, aportando à ilha de Lampedusa, onde os espera um centro de acolhimento que, há muito, perdeu a capacidade para tantos imigrantes. E não param de chegar. Todos os dias. Muitos ficaram pelo caminho. Alguns, para desembarcarem na ilha ameaçam lançar crianças ao mar, face às reticências das autoridades italianas.
De acordo com as Nações Unidas, cerca de oito mil pessoas chegaram a Lampedusa desde o principio deste ano; a maioria vem de países do norte de África e particularmente da Líbia.

A primeira visita oficial do Papa Francisco, fora de Roma, realizou-se, exatamente, à ilha de Lampedusa, onde pediu a todos os homens de boa vontade, cristãos ou não, um "despertar das consciências" para combater a "globalização da indiferença".

Tudo isto me parece transparecer neste olhar. O sofrimento inaudito de séculos está inscrito no seu ADN. Convoca a nossa humanidade, e, porque não, a nossa compaixão, a nossa solidariedade ativa e fraterna, sem racismo nem sobranceria, a nossa luta contra o MAL. Hesitei no uso da palavra, por ter conatações religiosas, mas o que é a corrupção, o compadrio, o ultra-liberalismo desumano, a usurpação vil dos nossos direitos, o poder apodrecido que nos governa para deliberadamente nos empobrecer e continuar a enriquecer uma minoria desde sempre privilegiada, senão o MAL?



                                                             Foto: © ABD AL-RAHMAN 

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