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segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Aniversário de nascimento de Ricardo Reis

SEGUNDO FERNANDO PESSOA, QUE LHE TRAÇOU A “VIDA” E A “OBRA”, OCORREU A 19 DE SETEMBRO DE 1888 (UM ANO ANTES DO NASCIMENTO DO SEU CRIADOR!…)
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Na sua Carta a Adolfo Casais Monteiro - 13 Jan. 1935, Pessoa, ao explicar a origem do “heteronimismo”, diz que “aí por 1912, salvo erro (que nunca pode ser grande), veio-me à ideia escrever uns poemas de índole pagã.” […] “Esbocei umas coisas em verso irregular (não no estilo Álvaro de Campos, mas num estilo de meia regularidade), e abandonei o caso. Esboçara-se-me, contudo, numa penumbra mal urdida, um vago retrato da pessoa que estava a fazer aquilo. (Tinha nascido, sem que eu soubesse, o Ricardo Reis)”[…]
“Num dia em que finalmente desistira — foi em 8 de Março de 1914 — acerquei-me de uma cómoda alta, e, tomando um papel, comecei a escrever, de pé, como escrevo sempre que posso. E escrevi trinta e tantos poemas a fio, numa espécie de êxtase cuja natureza não conseguirei definir. Foi o dia triunfal da minha vida, e nunca poderei ter outro assim.” 
“Aparecido Alberto Caeiro, tratei logo de lhe descobrir — instintiva e subconscientemente — uns discípulos. Arranquei do seu falso paganismo o Ricardo Reis latente, descobri-lhe o nome, e ajustei-o a si mesmo, porque nessa altura já o via. “[…]
“Eu vejo diante de mim, no espaço incolor mas real do sonho, as caras, os gestos de Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos. Construi-lhes as idades e as vidas. Ricardo Reis nasceu em 1887 (não me lembro do dia e mês, mas tenho-os algures), no Porto, é médico e está presentemente no Brasil.” […]

“Caeiro era de estatura média, e, embora realmente frágil (morreu tuberculoso), não parecia tão frágil como era. Ricardo Reis é um pouco, mas muito pouco, mais baixo, mais forte, mas seco. “[…]
“Ricardo Reis, educado num colégio de jesuítas, é, como disse, médico; vive no Brasil desde 1919, pois se expatriou espontaneamente por ser monárquico. É um latinista por educação alheia, e um semi-helenista por educação própria.”[…]
“Como escrevo em nome desses três?... Caeiro por pura e inesperada inspiração, sem saber ou sequer calcular que iria escrever. Ricardo Reis, depois de uma deliberação abstracta, que subitamente se concretiza numa ode.” […]
“O difícil para mim é escrever a prosa de Reis — ainda inédita”[…]

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Fernando Pessoa
Da “ Carta a Adolfo Casais Monteiro - 13 Jan. 1935”.
In Cartas. Fernando Pessoa. (Richard Zenith, ed.) Lisboa, . Lisboa: Assírio & Alvim, 2001
Imagem: Carta astrológica de Ricardo Reis, traçada por Fernando Pessoa.

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