Não tenhas nada nas mãos
Nem uma memória na alma,
Nem uma memória na alma,
Que quando te puserem
Nas mãos o óbolo último,
Nas mãos o óbolo último,
Ao abrirem-te as mãos
Nada te cairá.
Nada te cairá.
Que trono te querem dar
Que Átropos to não tire?
Que Átropos to não tire?
Que louros que não fanem
Nos arbítrios de Minos?
Nos arbítrios de Minos?
Que horas que te não tornem
Da estatura da sombra
Da estatura da sombra
Que serás quando fores
Na noite e ao fim da estrada.
Na noite e ao fim da estrada.
Colhe as flores mas larga-as,
Das mãos mal as olhaste.
Das mãos mal as olhaste.
Senta-te ao sol. Abdica
E sê rei de ti próprio.
E sê rei de ti próprio.
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19 - 6 - 1914
Ricardo Reis
In Poesia , Assírio & Alvim, ed. Manuela Parreira da Silva, 2000
Van Gogh. A Sesta.
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