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quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Bocage

BOCAGE [n. Setúbal, 15-9-1765 — m. Lisboa, 21-12-1805]
Foi o maior poeta português do século XVIII, com um destino semelhante ao de Camões, nas desventuras e na passagem pela Índia. Manuel Maria l' Hedoux de Barbosa du Bocage - de seu nome completo - era filho de um advogado e de uma senhora francesa de ascendência normanda. Nasceu em Setúbal, a 15 de setembro de 1765 e morreu aos 40 anos, em Lisboa. “Assentou praça em Setúbal em 1781, tendo-se alistado dois anos depois na Academia dos Guardas-Marinhas, em Lisboa. Conheceu então a boémia lisboeta, os botequins, o café Nicola, onde o seu génio poético se afirmou no improviso e lhe ganhou aplausos”. Ao fim de dez meses abandonou os estudos, sendo dado como desertor. Nomeado guarda-marinha, partiu para a Índia em 1786. Regressou a Lisboa em 1790, já como tenente, depois de uma passagem por Macau.

Aderiu à Nova Arcádia, onde assumiu o pseudónimo literário de Elmano Sadino. Foi preso, em 1797, por ordem do intendente Pina Manique, acusado de ser "autor de papéis ímpios e sediciosos". Foi transferido para os cárceres da Inquisição, daí seguindo para o Hospício de Nossa Senhora das Necessidades, dirigida pelos padres do Oratório. Quando saiu do convento tentou alcançar um trabalho regular e remunerado que lhe permitisse dar um lar à irmã mais nova, Maria Francisca, um lar. Assim, foi viver para o Beco André Valente (atualmente, Rua do Século, no Bairro Alto)onde mais tarde morreu e em cuja morada se encontra afixada uma placa comemorativa da sua presença. 

“Foi durante este período que travou uma polémica com José Agostinho de Macedo, ditando a um amigo no Nicola a «Pena de Talião», sátira que ficou célebre na literatura portuguesa.” Em consequência da prisão e da vida desregrada, contraiu um aneurisma, que o forçou ao recolhimento. Reduzido a quase-miséria, sobreviveu graças ao apoio de um amigo que recolheu os poemas compostos durante a doença e os publicou, vendendo-os pela rua. Morreu pobre, como tinha vivido,  em 21 de Dezembro de 1805.

“Toda a poesia de Bocage se nutre das suas vicissitudes biográficas. O amor e o erotismo, o ódio e a raiva das ofensas sofridas ou imaginadas, vibram nos seus versos com a intensidade do excesso, que a forma apurada e o rigor verbal dominam, tornando mais impressionante o seu efeito estético. O poeta cultiva com igual desenvoltura todos os géneros. (…) Bocage foi um ser contraditório, que soube viver intensamente na poesia as suas contradições existenciais. O seu fascínio pela morte e a expressão da sua extrema emotividade fazem dele um precursor do Romantismo, cujos desbordamentos evitou no apego à contenção clássica, impondo-se como um artífice do verso, o chamado elmanismo, que tanto atrairá os parnasianos portugueses e brasileiros.
Foi um tradutor rigoroso do latim e do francês, vertendo para o nosso idioma textos de Ovídio, Museu, Lacroix, Voltaire, Delille, Pierre Rousseau, entre outros.” (Fonte: Centro de Documentação de Autores Portugueses).

Dele escolhi, para assinalar o dia de hoje, o seu:

Retrato Próprio


Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão na altura,
Triste de facha, o mesmo de figura;
Nariz alto no meio, e não pequeno;
Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura;
Bebendo em níveas mãos por taça escura
De zelos infernais letal veneno;



Devoto incensador de mil deiades
(Digo de moças mil) num só momento,
E somente no altar amando os frades,



Eis Bocage, em quem luz algum talento;
Saíram dele mesmo estas verdades,
Num dia em que se achou mais pachorrento.
~
Bocage


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