Vivem em nós inúmeros;
Se penso ou sinto, ignoro
Quem é que pensa ou sente.
Sou somente o lugar
Onde se sente ou pensa.
Se penso ou sinto, ignoro
Quem é que pensa ou sente.
Sou somente o lugar
Onde se sente ou pensa.
Tenho mais almas que uma.
Há mais eus do que eu mesmo.
Existo todavia
Indiferente a todos.
Faço-os calar: eu falo.
Há mais eus do que eu mesmo.
Existo todavia
Indiferente a todos.
Faço-os calar: eu falo.
Os impulsos cruzados
Do que sinto ou não sinto
Disputam em quem sou.
Ignoro-os. Nada ditam
A quem me sei: eu escrevo.
Do que sinto ou não sinto
Disputam em quem sou.
Ignoro-os. Nada ditam
A quem me sei: eu escrevo.
~~
13 - 11 - 1935
Ricardo Reis
In Poesia , Assírio & Alvim, ed. Manuela Parreira da Silva, 2000
Nota: Último poema escrito por Fernando Pessoa, atribuído ao seu heterónimo Ricardo Reis, dezassete dias antes de morrer.
Bartolomeu Cid dos Santos - Pessoa e Heterónimos (anos 80)
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